Enquanto prepara a contestação do resultado eleitoral que deve ser desfavorável, inclusive com o uso de seus generais, Bolsonaro avança a passos largos para minar os avanços institucionais construídos a duras penas nos últimos 30 anos. A PEC Kamikaze, em votação acelerada no Congresso, torna letra morta a Lei de Responsabilidade Fiscal, a legislação eleitoral e o teto de gastos.

Apenas para baratear combustíveis (ou melhor, desacelerar as altas), o presidente vai torrar mais de R$ 80 bilhões, boa parte subtraídos de gastos para a educação. Enquanto a Europa lida com a crise do petróleo acelerando a transição para a energia verde, a matriz do futuro, o Brasil sacrifica as novas gerações para subsidiar gasolina à classe média.

Incluindo o Bolsa Família turbinado, com mudança de rótulo, os truques eleitorais para virar o voto em currais chega à astronômica cifra de R$ 200 bilhões. Como acontecia no passado, Bolsonaro deseja quebrar o Estado para se reeleger. Pratica estelionato eleitoral e um populismo barato. Faz isso deteriorando ainda mais a economia que já vinha sendo atingida por sua própria miopia política e pelo seu governo disfuncional.

A alta explosiva do dólar, anterior à guerra na Ucrânia, ocorre justamente pela instabilidade institucional gerada pelo mandatário e pelo risco fiscal representado por aberrações como o orçamento secreto e as pedaladas orçamentárias visando o pleito. Mesmo a lei das Estatais pode ser alterada para permitir a volta da farra nas companhias públicas.

Até hoje Bolsonaro conseguiu avançar nesse retrocesso por meio do casamento espúrio com o Centrão. Como resultado, o grupo fisiológico nunca teve tanto poder no Brasil. Agora, a novidade é que a própria oposição se refestelou com o derrame de dinheiro público eleitoreiro, aderindo de forma quase unânime à PEC Kamikaze. Para “ficar bem” aos olhos do eleitorado na distribuição de benesses, toda a oposição decidiu referendar a manobra governista mudando a Constituição a três meses da abertura das urnas, mesmo que isso represente um desmanche nas contas públicas e mine o equilíbrio fiscal nos próximos anos.

É um péssimo sinal para um eventual futuro governo do PT, já que antecipa o retorno à mesma irresponsabilidade com o orçamento público demonstrada por Dilma Rousseff. E explica, em boa medida, a razão de a “terceira via” ter naufragado antes mesmo do começo do período eleitoral. Qualquer projeto alternativo de poder de centro e reformista precisava ser esmagado para não ameaçar o status quo.

O PT quer segurar Bolsonaro até as eleições para garantir o triunfo de Lula. Já os outros partidos, incluindo o PSDB e o MDB de Simone Tebet, estão se refestelando com as verbas secretas e com o fundo eleitoral bilionário que vai engordar a burocracia partidária e as bancadas viciadas no balcão de negócios instalado no Congresso. Com isso, a eleição presidencial deve negar a esperança de o País superar os obstáculos que dificultam o desenvolvimento. Ao contrário, pode representar o triunfo do problemas históricos que sustentam o atraso.