Ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL) e um de seus principais aliados no Senado, Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou à IstoÉ que o ex-presidente demonstrou “tristeza” e um “sentimento de injustiça muito grande” na prisão domiciliar, regime em que está desde 4 de julho por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
À exceção de familiares, Bolsonaro só pode receber visitas previamente autorizadas pelo magistrado — Nogueira foi o primeiro político com mandato a fazê-lo, no dia 5. Segundo o senador, o ex-chefe nutre esperança de reverter a própria situação judicial. “É o que todos esperamos. Ele pediu trabalho para poder voltar a se comunicar com a população. Não há motivo para essa restrição a uma pessoa que não foi condenada“, disse.
Em setembro, o ex-presidente será julgado na Primeira Turma do Supremo por cinco acusações relativas a uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 e poderá ser condenado a até 43 anos de reclusão. Quatro dos cinco integrantes do colegiado foram uníssonos quanto à aplicação de medidas cautelares contra ele, o que dá pouco otimismo ao réu quanto à sentença.
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‘Não está risonho, mas contou piadas’
O deputado Júnio Amaral (MG) foi o primeiro colega de partido do ex-presidente a visitá-lo, na segunda-feira, 11. À IstoÉ, contou ter evitado assuntos políticos e judiciais no encontro. “Foi um encontro de homem para homem, não de político para político. Por mais forte e resiliente que ele [Bolsonaro] seja, é um ser humano, de carne e osso, que sofre pressões“.
Segundo o parlamentar, o ex-presidente não sofreu com os soluços constantes que vinham sendo relatados, demonstrou estar em bom estado de saúde e, embora não estivesse “risonho”, chegou a contar piadas durante a visita. “Permanece indignado, mas a indignação não o derruba“, afirmou Amaral.
Pedidos de lideranças do PL no Congresso, como os do deputado Sóstenes Cavalcante (RJ) e do senador Carlos Portinho (RJ), seguem na fila de avaliação de Moraes, bem como os de Nikolas Ferreira (PL-MG), Valdemar Costa Neto e outros correligionários. O único negado até aqui foi de Gustavo Gayer (PL-GO), também investigado na corte.
Além dos políticos ouvidos pela IstoÉ e dos filhos que têm cargo público, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os vereadores Carlos (PL-RJ) e Jair Renan (PL-SC), Bolsonaro foi visitado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disse que o aliado está “sereno” após o encontro.

Alexandre de Moraes, ministro do STF e responsável por prisão domiciliar de Bolsonaro
Por que Bolsonaro está preso
Na avaliação de Moraes, o ex-presidente descumpriu uma medida cautelar relativa ao caso em que é investigado por suspeita de atentado à soberania nacional. Bolsonaro e o filho, o deputado licenciado Eduardo (PL-SP), seriam responsáveis pela articulação que levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a impor tarifas de 50% sobre a maior parte dos produtos brasileiros enviados ao país.
Enquanto o parlamentar está nos EUA desde março com o objetivo declarado de “denunciar” as ações do STF contra o pai, o ex-presidente foi citado pelo americano como vítima de “caça às bruxas” do Judiciário brasileiro no anúncio do tarifaço.
Por isso, Bolsonaro passou a usar tornozeleira eletrônica e foi proibido de circular livremente entre 19h e 6h, frequentar embaixadas e se manifestar pelas redes sociais, mesmo que por meio dos perfis de terceiros. Dias depois, falou com filho, esposa e aliados em ligações transmitidas em manifestações contra o Supremo e veiculadas nas redes sociais, e foi colocado em prisão domiciliar.