Detido por "corrupção", líder oposicionista Ekrem Imamoglu tem prisão preventiva formalmente decretada e é suspenso do cargo de prefeito de Istambul, elevando clima de tensão no país, em meio a onda de protestos.O Ministério do Interior da Turquia anunciou neste domingo (23/03) que está suspendendo do cargo o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal opositor do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Momentos antes do anúncio, um juiz ordenou formalmente prisão preventiva para Imamoglu. Com isso, o político foi transferido para a prisão de Silivri, no oeste de Istambul.
Imamoglu foi detido na quarta-feira passada, sob acusações de "corrupção".
A determinação judicial deste domingo ocorreu após uma quarta noite de protestos em massa contra a detenção do político, que levou a fortes confrontos com a polícia, em meio à maior onda de manifestações no país em mais de uma década.
A detenção de Imamoglu, que assumiu o cargo de prefeito de Istambul em 2019 e renovou o mandato em 2024, causou grande revolta, já que sua legenda, o social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP), o havia indicado como candidato para a próxima eleição presidencial para enfrentar Erdogan.
Neste sábado, mais de 300 pessoas foram presas durante as manifestações.
Votação primária
İmamoğlu teve sua prisão preventiva decretada no mesmo dia em que 1,5 milhão de membros do CHP realizaram uma votação primária, destinada a endossar oficialmente sua candidatura à presidência. O prefeito de Istambul é o único candidato presidencial do partido, transformando a votação em uma demonstração simbólica de apoio.
Em uma declaração publicada na rede X, o ministério disse que, como uma "medida temporária", estava suspendendo Imamoglu como prefeito de Istambul.
Imamoglu é acusado de registro ilegal de dados pessoais, suborno, fraude em licitações e suporte de organização terrorista (devido a um acordo eleitoral entre o CHP e um partido pró-curdo que as autoridades acusam de ter vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo terrorista por Ancara.
A oposição acredita que as incriminações são forjadas com o intuito de afastar da política o opositor de Erdogan.
O CHP convidou novamente seus partidários a se manifestarem na noite deste domingo, como no passado, em frente à prefeitura de Istambul, onde cerca de 50 mil pessoas se reuniram no sábado para exigir a libertação do prefeito.
"Golpe contra a democracia"
Imamoglu pediu à nação que resista ao que ele chamou de "golpe contra a democracia".
"Querida nação, nunca perca a esperança. Juntos, desmantelaremos esse golpe contra nossa democracia, essa mancha negra", escreveu Imamoglu em uma mensagem na rede social X, a primeira desde que sua prisão preventiva foi anunciada.
Cerca de 90 pessoas foram presas na quarta-feira, incluindo dois prefeitos de distritos de Istambul que foram detidos por “corrupção” e "terrorismo".
Ambas as autoridades eleitas são membros do CHP, um partido social-democrata e secular fundado por Mustafa Kemal, o pai da República Turca.
O CHP tem 134 assentos no Parlamento, em comparação com os 272 do AKP de Erdogan, e nas eleições locais de março de 2024 ganhou 35 das 81 capitais de província, 11 a mais do que o AKP. Venceu na maioria das grandes cidades, como Ancara, a capital, Izmir, Antalya e a grande cidade industrial de Bursa.
md (EFE, AFP, AP)