Cerca de 300 migrantes forçaram a cerca em torno do enclave espanhol de Ceuta, no Marrocos, três dias depois de uma entrada maciça de 498 pessoas, indicou a delegação do governo.
Mais de 850 migrantes africanos conseguiram entrar em território da União Europeia em quatro dias cruzando a barreira entre o Marrocos e o enclave espanhol de Ceuta em um contexto de tensão entre a União Europeia e o governo marroquino.
“Cerca de 600 subsaharianos tentaram durante a madrugada entrar em Ceuta e 359 deles conseguiram ter acesso ao território nacional”, afirmou em um comunicado a delegação do governo espanhol da cidade.
Na sexta-feira, esta instituição indicou que 498 migrantes conseguiram forçar a cerca dos 700 que tentaram.
Depois de forçar a cerca, os migrantes subsaarianos festejaram gritando “obrigado, Senhor” e “estou na Europa”, de acordo com as imagens captadas pelo jornal local El Faro de Ceuta.
Nas ruas, alguns dos jovens que chegaram até Ceuta beijavam o chão gritando “Viva a Espanha!”. Vários estavam feridos, com as mãos ou os pés ensanguentados e as roupas rasgadas.
Muitos precisaram receber atendimento médico.
A vigilância desta fronteira terrestre de 8 quilômetros de extensão é realizada por Espanha e Marrocos, mas este último não goza de excelentes relações com Bruxelas e deu a entender que poderia relaxar seu controle sobre os migrantes.
A entrada de migrantes desta segunda-feira coincide com uma cúpula bilateral franco-espanhola em Málaga, no sul da Espanha.
A Espanha tem em Ceuta e seu outro enclave norte-africano, Melilla, as únicas fronteiras terrestres entre a África e a União Europeia.
– Disputa Rabat-Bruxelas –
As relações entre o Marrocos e a União Europeia não passam por um bom momento e o reino alauita lança sutis ameaças de relaxar os controles migratórios.
As diferentes interpretações de um acordo de livre comércio dos produtos agrícolas e pesqueiros é o motivo da disputa.
No final de 2016, o Tribunal de Justiça da UE avaliou que no Saara Ocidental, antiga colônia espanhola controlada por Rabat, este acordo não era aplicável, levando em conta o estatuto separado e distinto deste território em relação ao Marrocos reconhecido pelas Nações Unidas.
Desde então, associações que apoiam a Frente Polisario, que reclama a independência do Saara Ocidental, protestam contra várias operações comerciais entre o Marrocos e os países europeus que afetam os produtos chegados do Saara.
O ministério marroquino da Agricultura advertiu no início do mês que a Europa se expõe a “um verdadeiro risco de reativação dos fluxos migratórios que o Marrocos, com base em um esforço concreto, conseguiu gerenciar e conter”.
A entrada de migrantes desta segunda aconteceu horas antes da abertura de uma cúpula bilateral franco-espanhola em Málaga (sul da Espanha), presidida por François Hollande e Mariano Rajoy.