Três policiais foram condenados a prisão perpétua e outros seis, a penas entre quatro e oito anos por acobertamento, nesta terça-feira (11), em um crime de “ódio racial” contra um adolescente de 17 anos, caso considerado um símbolo da violência institucional na Argentina.

Os oficiais Gabriel Isassi, Fabián López e Juan José Nieva foram sentenciados pelo assassinato, em 2021, de Lucas González, um adolescente que morava na periferia de Buenos Aires e estava junto com três amigos após treinar em um clube de futebol da capital.

A condenação foi anunciada por “homicídio quintuplamente qualificado, premeditação, traição, racismo e abuso de poder” e também pela tentativa de homicídio contra os outros três jovens que estavam com a vítima.

“Eles os estigmatizaram porque eram morenos (pardos), porque vinham de uma vila, de um bairro carente, mas saíram do treino. Eles os viram, esperaram por eles, os torturaram, queimaram seus corpos com cigarros”, declarou o pai de Lucas, Héctor González, antes de entrar no tribunal.

Entre os 11 acusados de adulteração de provas, cinco foram absolvidos.

Dos seis oficiais condenados, três comissários e um vice-comissário receberam penas de seis anos de prisão e 10 anos de inelegibilidade por cumplicidade no caso. Enquanto outros dois oficiais foram sentenciados a quatro anos por cumplicidade e oito anos por tortura, respectivamente.

“É uma sentença histórica para a Argentina, para que nunca mais haja casos como Lucas González. Conseguimos que as vítimas e seus pais tenham sido considerados vítimas de violência institucional. É histórica porque nunca ouvimos condenações por violência institucional por ódio racial anteriormente”, disse o advogado do autor da ação, Gregorio Dalbón, à imprensa ao citar a decisão, cuja fundamentação será conhecida em 23 de agosto.

No dia do crime, os jovens foram treinar no clube Barracas Central de Florencio Varela, na periferia sul, no carro do pai de um deles. Quando pararam em um quiosque para comprar uma bebida, foram abordados por policiais em uma viatura não identificada. Pensando serem criminosos, os adolescentes aceleraram para fugir, até serem baleados do outro carro. Lucas González levou dois tiros na cabeça e morreu horas depois no hospital.

Um dos amigos conseguiu escapar e foi salvo. Os outros dois foram jogados ao chão, algemados, chutados e presos. A polícia, por sua vez, disse que houve confronto e “plantou” uma arma de brinquedo no carro em que os jovens estavam, como ficou provado durante o julgamento.

Minha “vida foi destruída. Estou morta enquanto estava viva. Que [os culpados] não saiam da cadeia até eu tirar Lucas do cemitério, ou seja, nunca”, disse Cintia López, mãe de Lucas, acrescentando que “a justiça foi feita”, após o anúncio do veredito.

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