Um tribunal russo ordenou nesta quarta-feira (28) a detenção de três jovens poetas, que haviam participado no domingo, em Moscou, da leitura de textos contra a mobilização para lutar na Ucrânia.
Segundo a ONG OVD-Info, Artiom Kamardin, Egor Shtovba e Nikolai Daineko foram postos em prisão preventiva por dois meses.
Segundo a fonte, eles são suspeitos de “incitação ao ódio com ameaça de uso da violência”.
Se forem indiciados, podem pegar até seis anos de prisão em um contexto de repressão na Rússia a toda crítica ao conflito na Ucrânia.
No domingo, os três participaram da declamação de alguns versos em frente à estátua do poeta Vladimir Mayakovski, no centro de Moscou, um local onde se reuniam no passado intelectuais dissidentes durante o período soviético.
No começo das leituras, um homem afirmou que se tratava de um ato contra a mobilização militar, ordenada na Rússia na semana passada, segundo pôde-se ver no vídeo da ação, divulgado no canal opositor “Mos Piket”, no YouTube.
Na leitura de seu poema, “Mate-me, miliciano”, Artiom Kamardin conclui, dizendo: “Glória ao Rus de Kiev, Nova Rússia, vá se ferrar!”.
A frase faz uma dupla menção, respectivamente, ao Estado eslavo medieval que abrange parte da Ucrânia e da Rússia, e ao projeto imperialista da Nova Rússia, que pretende criar um espaço russo no sul e no leste da Ucrânia.
No dia seguinte, Artiom Kamardin foi detido durante uma revista em sua residência. Segundo seu advogado, Leonid Solovev, citado pela imprensa independente russa, o jovem contou ter sido espancado e violentado com um haltere durante sua detenção.
O canal Telegram 112, próximo às forças de ordem russas, publicou um vídeo no qual o jovem aparece ajoelhado, pedindo perdão.
Ao tomar a palavra perante o tribunal nesta quarta-feira, segundo imagens gravadas pelo veículo independente SOTA, Artiom Kamardin disse que suas desculpas foram obtidas “sob tortura”. Ele apareceu na audiência com marcas e uma gaze no rosto.
Nikolai Daineko foi detido no domingo durante a leitura dos poemas e foi multado por “manifestação não autorizada”. Foi liberado e detido novamente na segunda-feira, segundo a OVD-Info.