Três pacientes que foram submetidos a um tratamento experimental de nebulizaçção com hidroxicloroquina diluída em soro fisiológicos tiveram suas mortes confirmadas pelo Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, no Rio Grande do Sul. As informações são do jornal Zero Hora.

Os casos aconteceram entre segunda (22) e esta quarta-feira (24), com pacientes de Covid-19 evoluindo de quadros clínicos graves e estáveis para o falecimento após o início dos tratamentos ministrados pela médica Eliane Scherer.

Segundo a reportagem, os protocolos clínicos da instituição preveem apenas a prescrição por via oral da hidroxicloroquina, remédio sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, mas a médica passou a aplicar a técnica experimental da nebulização com o medicamento diluído, o que não é previsto pelos regulamentos medicinais.

À Zero Hora, o médico e diretor-técnico do Hospital, Tiago Bonilha de Souza, disse que a nebulização está contribuindo para melhorar o desfecho dos pacientes. “Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos [de óbito] apresentaram reações adversas após o procedimento”, disse.

Eliane, que era contratada apenas para atendimento no pronto socorro do hospital, não podendo atender na Unidade de Terapia Intensiva, apesar de descumprir esta regra, foi demitida do hospital em 10 de março. A direção do hospital justificou a decisão como consequência do tratamento experimental e de atritos com os outros médicos responsáveis pelos leitos clínicos e pela UTI que não concordavam com os seus métodos, de acordo com o jornal.

A médica foi denunciada pelo hospital ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), na segunda (22), por 17 supostas infrações médicas. Apesar disso, ela seguiu ministrando o tratamento experimental em alguns pacientes do hospital, porque alguns deles conseguiram autorização judicial para isso.

Na quinta-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exaltou o tratamento experimental em sua live semanal e, no dia seguinte, em uma fala na rádio local, criticou o hospital por ter pedido o desligamento da médica.

“Os médicos têm o direito, ou o dever, no momento em que falta medicamento específico para aquilo, com comprovação científica, ele pode usar o que chama de off label, fora da bula. Mas no Brasil virou um tabu, praticamente é criminoso quem fala disso”, disse Bolsonaro.