O milionário de direita Daniel Noboa, praticamente desconhecido na política, surpreendeu ao ficar em segundo lugar nas eleições de domingo e disputará a Presidência do Equador com a primeira colocada, a esquerdista Luisa González.

A receita para sua ascensão meteórica: as redes sociais como TikTok e a desenvoltura no único debate entre os candidatos à Presidência, no qual foi o único a se apresentar usando colete à prova de balas, cinco dias após o assassinato do candidato Fernando Villavicencio, que era o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto.

Ele aparecia atrás nas pesquisas, mas bastou uma semana para o filho do magnata dos setores bananeiro e da navegação Álvaro Noboa Pontón atrair, silenciosamente, 24% dos votos e garantir uma vaga na disputa pelo poder com Luisa González (33% dos votos) no segundo turno destas atípicas eleições gerais antecipadas.

Previsto para outubro, o segundo turno será uma reedição das eleições de 2006, quando o pai de Noboa enfrentou nas urnas o então desconhecido Rafael Correa, ex-presidente socialista, acusado de corrupção, padrinho político de González e que governou o Equador por dez anos, até 2017.

Confira a seguir as chaves para o sucesso de Noboa:

– 1. Um rosto novo –

Aos 35 anos, Noboa poderia se tornar o presidente mais jovem do Equador. Sua única credencial política é um mandato de dois anos na Assembleia Nacional dissolvida em maio e onde presidiu a Comissão de Desenvolvimento Econômico.

Anteriormente, ele era empresário do setor de eventos e ocupou cargos de destaque em empresas familiares prósperas.

Noboa é “uma encarnação do novo na política equatoriana, uma busca que tem estado na cena política e eleitoral equatoriana nos últimos cinco anos”, disse Santiago Cahuasquí, cientista político da Universidade Internacional SEK, à AFP.

Seu rosto jovem, figura atlética e passado corporativo conquistaram os eleitores, que o recompensaram com 2,2 milhões de votos.

“Acredito que ele é um jovem preparado, e ser jovem não é um impedimento” para governar, comentou Rubén Paredes, de 42 anos, que votou em Noboa.

Esse consultor especializado em assuntos petrolíferos considera que a juventude do candidato “é uma virtude porque ele não tem os vícios da velha política”.

– 2. Eleitores jovens –

Cansados de um longo conflito político, os equatorianos “desejam uma nova figura, uma nova proposta que esteja fora do espectro do correísmo e do anti-correísmo, que quebre a lógica binária da política construída em oposições”, disse Cahuasquí.

Cauteloso em suas palavras, Noboa encara sua futura adversária evitando confrontos ofensivos que são comuns entre forças opostas no Equador.

Ao contrário do correísmo, que baseou seu discurso na ideia de recuperar as conquistas de seu líder, Noboa desviou seu discurso para a ideia do futuro. Rafael Correa foi condenado a oito anos de prisão por corrupção, mas continua influenciando a política equatoriana do exílio na Bélgica.

“Se você começa a falar sobre o caso Correa para um jovem, ele vai dizer ‘quem é esse senhor?'”, diz Saudia Levoyer, acadêmica da Universidade Andina Simón Bolívar (UASB), à AFP.

A população com idade entre 18 e 29 anos representa 25% do eleitorado.

Foi a esses jovens que o político direcionou sua campanha, priorizando o uso de redes sociais como TikTok e Instagram.

“Se você tem um eleitorado menor de 35 anos (…) e sabe que eles estão no Instagram e TikTok, então você anuncia lá, porque o voto está em disputa”, acrescentou Levoyer, que coordena o mestrado em Comunicação Política na UASB.

Como um bônus, Noboa “falou claramente a esse grupo etário sobre um modelo econômico muito diferente de seu concorrente direto”.

Para Cahuasquí, uma mensagem importante foi a posição de Noboa a favor da suspensão da extração de petróleo em parte do parque amazônico Yasuní.

– 3. A família Noboa –

Uma eventual vitória de Daniel Noboa no segundo turno também retiraria um espinho da família de tradição política. A tão desejada Presidência, que escapou por muito tempo de seu pai, agora poderia cair nas mãos do filho.

O ex-parlamentar Noboa Pontón foi candidato à Presidência em cinco ocasiões e em três delas chegou ao segundo turno. Dessas experiências, ele ainda possui um capital político que seu filho poderia herdar.

“Eles são pessoas muito conhecidas em certos setores” e possuem recursos econômicos suficientes, aponta Levoyer.

Anabella Azín, mãe de Noboa, médica, ex-deputada e ex-candidata a vice-presidente, lidera programas sociais.

A família “tem tentado há anos que Álvaro Noboa seja presidente”, mas após sua retirada da política, é seu filho mais velho que está destinado a sucedê-lo.

No entanto, Levoyer enfatiza que o desafio de Noboa para o segundo turno será conduzir uma campanha dinâmica, divertida e precisa sobre suas propostas práticas.

“Os problemas estão bem identificados. O desafio é que ele diga como fará, em quanto tempo e que seja algo que faça as pessoas sentirem que é melhor”, conclui.

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