Uma trégua entrou em vigor nesta quinta-feira (3) entre o governo e os rebeldes na província síria de Homs, depois de um acordo concluído por Moscou sobre uma nova área de “desescalada”, visando a estabelecer um cessar-fogo duradouro naquele país em guerra.
Negociado no fim de julho, no Cairo, o acordo estipula que “os grupos da oposição moderada e as forças governamentais devem deter os disparos completamente na terceira zona de distensão”, situada ao norte da cidade de Homs, afirmou o porta-voz do Ministério russo da Defesa, general Igor Konachenkov.
A zona inclui 84 localidades com uma população de mais de 147.000 habitantes, segundo a mesma fonte.
Entre elas figuram Ratsanm, Talbiesseh e Al-Hula, algumas das primeiras a participar da rebelião contra o governo de Bashar al-Assad em 2011, indicou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A oposição conquistou essas cidades em 2012.
Esta é a terceira zona de “distensão”, após a do sudoeste da Síria e a de Ghuta Oriental, perto de Damasco.
Envolvida militarmente ao lado do governo Bashar al-Assad em sua guerra contra os rebeldes e extremistas islâmicos, a Rússia tenta encontrar meios de acabar com o conflito que já deixou 330 mil mortos e forçou mais de dois milhões a deixarem suas casas.
Segundo um ativista em Talbiesseh, Mustafa Khaled, “não houve violações à trégua” na região. “Mas parece que as pessoas não confiam nem no regime, nem nos russos”, acrescentou.
As Forças Armadas sírias não fizeram um anúncio oficial sobre essa terceira zona de “desescalada”.
Uma quarta zona deve ser criada na região de Idlib (noroeste), como estipula o acordo concluído no início de julho em Astana, capital do Cazaquistão, entre Rússia, Irã e Turquia.
A Rússia vai instalar dois postos de controle e três postos de vigilância da polícia militar para supervisionar o cessar-fogo.
Os militares russos serão responsáveis por “separar as partes em conflito, monitorar o cessar-fogo e assegurar a passagem segura de comboios humanitários, bem como pela evacuação de doentes e feridos”, informou o governo russo.
Já a oposição vai liberar o trecho da estrada que liga Homs a Hama e que passa pela área de desescalada, segundo a mesma fonte.
Algumas unidades da Polícia Militar russa já foram mobilizadas nas duas primeiras zonas de desescalada.
Os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) e da Frente Fateh al-Sham (antiga Frente al-Nusra, ex-facção síria da Al-Qaeda) estão excluídos da trégua.
A Rússia “vai continuar a fazer todo o possível para restaurar a paz o mais depressa possível” na Síria, assegurou o porta-voz do Ministério.
Deflagrado em março de 2011 pela repressão a manifestações pró-democracia, o conflito na Síria se tornou mais complexo ao longo dos anos, com o envolvimento de atores regionais, potências estrangeiras e grupos extremistas, em um território cada vez mais fragmentado.
Além da campanha aérea russa, uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos continua seus ataques contra o EI na Síria.
Na quarta-feira (2), mais de 40 civis foram mortos em ataques aéreos em áreas controladas pelo EI, de acordo com OSDH.
Vinte e seis morreram em Raqa, principal reduto do EI, em ataques da coalizão, e 15 morreram em um ataque russo em uma cidade na província de Deir Ezzor, no leste do país.