A trégua entre Israel e Hamas vai começar na manhã de sexta-feira e um primeiro grupo de 13 reféns nas mãos do grupo islamista palestino será libertado à tarde, anunciou, nesta quinta (23), um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar.

“A pausa humanitária começará às 7h de sexta-feira [02h00 no horário de Brasília] (…) e o primeiro grupo de reféns civis será entregue aproximadamente às 16h do mesmo dia”, informou Majed al Ansari, especificando que treze mulheres e crianças serão libertadas.

O braço armado do Hamas, as Brigadas Ezzedin al Qassam, confirmou a “interrupção de todas as operações militares” durante quatro dias a partir de sexta-feira e a troca de um total de 50 reféns, incluindo mulheres e crianças, pela libertação de três presos palestinos por cada pessoa sequestrada.

Israel confirmou que recebeu uma “primeira lista de nomes” de reféns e que está “em contato com todas as famílias”.

O Catar, que atua como mediador no conflito, havia anunciado na quarta uma trégua de quatro dias, acompanhada de uma troca de reféns mantidos em Gaza por presos palestinos detidos em Israel.

O acordo prevê uma “troca de 10 reféns por 30 prisioneiros” no primeiro dia da trégua, e um total de 50 reféns civis libertados em quatro dias por 150 palestinos.

Israel divulgou uma lista de 300 prisioneiros palestinos que podem ser libertados: 33 mulheres e 267 jovens com menos de 19 anos.

A comunidade internacional recebeu a notícia do acordo com otimismo, por considerá-lo um primeiro passo para um cessar-fogo duradouro.

A ONU considerou o acordo um “passo importante”, mas observou que “ainda há muito a ser feito”.

– Bombardeios em Khan Yunis –

O acordo foi anunciado após quase sete semanas de uma guerra desencadeada por um ataque, em 7 de outubro, do Hamas em território israelense que deixou 1.200 mortos, a maioria civis.

Além disso, 240 pessoas foram sequestradas no dia da agressão do movimento islamista palestino e levadas para a Faixa de Gaza.

Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva contra Gaza que, segundo o Hamas, deixou quase 15.000 mortos no território palestino, incluindo mais de 5.000 crianças.

Os combates prosseguiram durante toda a noite no pequeno território de 360 quilômetros quadrados, sobre o qual Israel impõe desde 9 de outubro um “cerco total”, cortando o fornecimento de água, comida, energia elétrica e combustível.

Durante a madrugada de quinta-feira, a agência palestina Wafa relatou bombardeios israelenses que deixaram “dezenas” de mortos em diferentes setores de Gaza.

A Jihad Islâmica Palestina, que participa nos combates, citou confrontos no coração da Cidade de Gaza, no norte da Faixa. No sul, os ataques atingiram a localidade de Khan Yunis.

“Calculo que há cerca de 20 pessoas embaixo dos escombros”, contou à AFP um palestino que buscava sobreviventes em um prédio destruído nesta cidade.

O diretor do Hospital Al Shifa, o maior de Gaza, foi detido ao lado de outros dirigentes, segundo um funcionário do hospital.

O médico Mohamed Abu Salmiya foi “levado para ser interrogado”, o que foi confirmado nesta quinta-feira pelo Exército israelense, que controla o hospital, onde inspeciona a infraestrutura militar subterrânea utilizada, segundo ele, pelo Hamas.

– “Uma decisão difícil” –

O governo israelense aceitou o acordo de trégua, apesar da oposição interna.

“Cidadãos de Israel, muitas vezes tenho que optar entre uma decisão difícil e outra ainda mais difícil, e este é particularmente o caso dos reféns”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O presidente do Irã, Ebrahim Raissi, que apoia o Hamas e cujo país não reconhece Israel, afirmou que “o cessar-fogo temporário é uma grande vitória para o movimento islamista”.

“Isto me dá esperança de que minhas filhas voltem”, declarou Maayan Zin, mãe de duas meninas sequestradas em Gaza.

– Trégua insuficiente –

O acordo, mediado por Catar, Estados Unidos e Egito, deve proporcionar um alívio para a população e facilitar a entrada de ajuda humanitária, que tem chegado de forma limitada em caminhões procedentes do Egito.

Entre 200 e 300 caminhões entrarão em Gaza, oito deles com combustível e gás, segundo Taher al Nunu, funcionário do Hamas.

Várias ONGs internacionais afirmaram que o cessar-fogo não será suficiente para que a ajuda necessária chegue, além de “não ser suficiente em termos de direitos humanos”.

Apesar do acordo, Israel afirmou que continuará a guerra para “eliminar o Hamas e garantir que não haja ameaça ao Estado de Israel vinda de Gaza”.

“Confirmamos que nossos dedos permanecerão no gatilho”, alertou, por sua vez, o movimento islamista, classificado como organização terrorista por Estados Unidos e União Europeia.

“Falam de trégua, mas… que trégua? Uma trégua com feridos, mortos e casas destruídas? Não queremos trégua se não pudermos voltar para nossas casas, não queremos trégua por um pouco de comida”, afirmou Maysara al Sabbagh, refugiado em Khan Yunis.

A guerra também provoca o temor de um conflito regional, em particular entre Israel e o grupo libanês Hezbollah.

bur-gl/lgo/meb/pc/zm/fp/yr/mvv