O coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 em São Paulo, João Gabbardo, foi o entrevistado da live da ISTOÉ nesta terça-feira (2).O Médico afirmou que os dados epidemiológicos recentes sobre o novo coronavírus no estado de São Paulo permitem ao governo paulista fazer uma reclassificação das regiões do estado.

O gaúcho ressaltou que muito provavelmente a cidade de São Paulo pode sair da fase vermelha ainda neste final de semana.

“Os indicadores melhoraram bastante. Não aumentou o número de casos e as internações hospitalares começaram a reduzir. Aí, nós entendemos a possibilidade de retomar as recomendações iniciais de cada região”, explicou.

Ex-Secretário Executivo do Ministério da Saúde de Bolsonaro, na gestão de Luiz Henrique Mandetta, ele disse que o negacionismo de Jair Bolsonaro sobre a doença, apontadas pelos estudos científicos, jogou por terra as recomendações de enfrentamento do próprio Ministério da Saúde à população.

“Nós esperávamos ter apoio do presidente da República, mas não tivemos”, lamenta.

Sobre a situação de Manaus, o secretário fez duras críticas ao governo federal no enfrentamento à doença na capital do Amazonas

“Houve um equívoco muito grande em redirecionar o tratamento das UBS para o tratamento precoce (leia-se, o uso de cloroquina). Foi um fracasso absoluto”, afirma.

No bate-papo, Gabbardo avaliou o ritmo da campanha de imunização nacional. “O início da vacinação está muito lento.”

“Se tivéssemos vacinas no SUS, a imunização já estava acelerada”, completa.

Porém, o médico gaúcho afirma que nossos problemas vão além da vacina, propriamente dita. “Nós não temos vacina, mas também faltam insumos como seringas, agulhas, materiais de proteção individual…”, criticou.

“Com a chegada das vacinas, acredito que dá para vacinar toda a população brasileira, acima dos 18 anos, até o final do ano. Não deveríamos ficar guardando vacinas para a segunda dose. Deveríamos usar todo nosso estoque”, defende.

Nas observações que Gabbardo faz sobre as negociações da vacina do Brasil com a China, ele diz que o governo brasileiro cochilou e foi no mínimo imprudente nas tratativas comerciais.

“Houve muita dúvida por parte de Brasília. Os chineses colocaram o pé no freio nas intenções de negociar com o Brasil por causa das indefinições do governo Brasileiro.”

Após elogios ao Butantan, Gabbardo diz que o Instituto paulista trabalha em três frentes contra o Covid: a vacina, nos estudos com o soro dos cavalos e no plasma de pessoas convalescentes da doença.

“O Butantan será responsável, num futuro bem próximo, pela distribuição de vacinas para outros países”, avalia.

Com dados técnicos, ele desmontou uma crítica recorrente de que o enfrentamento à doença seria mais eficiente com o aumento de vagas em UTIs. Gabbardo deixa claro que novos espaços hospitalares são sempre bem-vindos, porém, a melhor maneira de tratar as pessoas com a Covid-19 é evitar a transmissibilidade da doença.

“Nós não vamos colocar as pessoas dentro dos hospitais em leitos achando que com isso nós vamos proteger a população. Não vamos”, concluiu.