A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) incorporou aa terça-feira, 5, ao rol de tratamentos de cobertura obrigatória o princípio ativo beta-galsidase, usado no tratamento da doença de Fabry para crianças a partir de 8 anos. Ou seja, agora os planos de saúde terão que cobrir o tratamento com esse medicamento, quando for indicado.

A decisão se deu após a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) emitir uma recomendação positiva para a inclusão da tecnologia na rede pública de saúde. Em dezembro de 2023, o beta-galsidase foi incorporado ao SUS.

O que é a doença de Fabry?

É uma doença rara, de causa genética, caracterizada pela deficiência da enzima alfa-galactosidase, responsável pela quebra de algumas moléculas, de acordo com a geneticista Ana Maria Martins, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Os pacientes com a doença acabam acumulando moléculas principalmente nos rins e no coração, o que pode comprometer a função desses órgãos e até levar ao óbito. Já foi comprovado, inclusive, que a doença costuma diminuir a expectativa de vida dos pacientes”, explica.

A doença de Fabry é progressiva, ou seja, piora com o passar do tempo. Por isso, de acordo com a nefrologista Maria Cristina de Andrade, coordenadora da equipe de nefrologia pediátrica do Hospital Infantil Sabará, é fundamental começar o tratamento o quanto antes.

Como é o tratamento?

O único tratamento específico existente para a doença de Fabry, de acordo com Martins, é a reposição da enzima alfa-galsidase no organismo. Atualmente, há duas terapias de reposição dessa enzima: a alfa-galsidase e a beta-galasidase. Segundo a especialista, a principal diferença entre as duas diz respeito à dosagem. “Trata-se de algo relevante e que impacta na escolha de tratamento”, explica.

Há ainda um outro tratamento para a doença aprovado pela Anvisa, o Migalastat. Este, contudo, funciona só para alguns pacientes, segundo a geneticista.

Além disso, ela destaca que, mesmo após ambos (alfa-galsidase e a beta-galasidase) terem sido incorporados ao SUS em 2023, a inclusão do beta-galasidase no rol obrigatório da ANS continua sendo relevante. “Muitos pacientes estão há um ano esperando pela terapia alfa no SUS. Por isso, dar mais um passo em direção ao acesso de tratamentos para a doença de Fabry é fundamental”, destaca.

Preço salgado

A cobertura pelos planos de saúde é essencial também devido ao preço altíssimo do tratamento. Segundo levantamento realizado pelo Estadão, uma caixa de 35 mg do Fabrazyme, medicamento com o princípio ativo beta-galsidase custa, em média, R$ 22 mil.

Vale destacar que, por se tratar de uma doença crônica e progressiva, o tratamento com a reposição enzimática deve ser feito durante toda a vida do paciente, o que o torna ainda mais inacessível custeá-lo do próprio bolso. “A cada 15 dias, ele deve receber a medicação pela veia”, explica Andrade.