A ansiedade é uma resposta natural do corpo ao estresse, e nos ajuda a lidar com situações desafiadoras ou perigosas. Ela pode ser útil quando nos prepara para uma apresentação importante ou nos alerta para um perigo iminente. No entanto, a ansiedade também pode se tornar excessiva, interferindo no funcionamento diário e na qualidade de vida. Ela pode ser comparada a um alarme que dispara mesmo quando não há motivo real para preocupação, levando a pessoa a se sentir constantemente preocupada e tensa.

A ansiedade se torna perigosa quando começa a afetar negativamente a vida de uma pessoa, prejudicando suas atividades diárias, relacionamentos e bem-estar emocional. Em alguns casos, pode levar a problemas de saúde física e mental, como insônia, doenças cardiovasculares e depressão. Além disso, a ansiedade crônica pode diminuir a qualidade de vida, já que a pessoa tende a evitar situações que possam desencadear a ansiedade, limitando assim suas experiências e oportunidades.

O psiquiatra Luiz Henrique Junqueira Dieckmann é referência em psiquiatria clínica e farmacogenética, autor do livro ‘Farmacogenética na psiquiatria – Entendendo os princípios e a aplicabilidade clínica’, diretor presidente do Instituto Brasileiro de Farmacologia Prática (BIPP), e conhece bem sobre o tema ansiedade, tanto do ponto de vista do profissional, quanto do ponto de vista do paciente. O médico já foi acometido pelo transtorno de ansiedade e conseguiu, com o tratamento correto, o retorno para sua qualidade de vida e atividades exercidas.

Bons resultados que cada dia ficam mais difíceis de ser alcançados com o grande impacto que a internet e as redes sociais exercem na vida das pessoas, especialmente na vida de pessoas ansiosas. Segundo Dr. Luiz, as redes sociais e o excesso de informação podem piorar a ansiedade de várias maneiras.

“Primeiro, a comparação constante com os outros pode levar a sentimentos de inadequação e baixa autoestima, contribuindo para a ansiedade. Segundo, o fluxo constante de notícias e informações pode fazer com que as pessoas se sintam sobrecarregadas e ansiosas. Terceiro, as redes sociais podem dificultar a desconexão e o relaxamento, pois muitas pessoas sentem a necessidade de estar sempre conectadas e atualizadas. Por último, o uso excessivo de redes sociais pode levar a um estilo de vida sedentário e isolamento social, ambos fatores que podem aumentar a ansiedade”, explica o psiquiatra.

Luiz Dieckmann explica que “a ansiedade se torna um transtorno quando é persistente, desproporcional e interfere significativamente na vida diária de uma pessoa. Os sintomas podem incluir preocupação excessiva, dificuldade em controlar os pensamentos ansiosos, inquietação, irritabilidade, problemas de concentração e sono, e sintomas físicos como tensão muscular e fadiga. Quando a ansiedade atinge esse nível, é importante procurar a ajuda de um profissional de saúde mental para avaliação e tratamento adequado”.

Existem vários tipos de transtornos de ansiedade, incluindo transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno do pânico, fobia social, transtorno de ansiedade de separação e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

O TAG é caracterizado por preocupação crônica e excessiva em relação a várias áreas da vida, enquanto o transtorno do pânico envolve ataques súbitos e intensos de ansiedade. A fobia social é marcada por medo intenso e persistente de situações sociais (podemos chamar de um tipo de timidez excessiva), e o transtorno de ansiedade de separação envolve ansiedade excessiva relacionada à separação de pessoas queridas (mais comum na infância). Por fim, o TEPT é resultado de uma experiência traumática e envolve sintomas como flashbacks, evitação e hipervigilância.

Dr. Luiz Dieckmann comenta sobre doença que tem atingido muitos brasileiros (Crédito:Divulgação)

 

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é o tipo de ansiedade mais comum entre os brasileiros. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, em 2019, mais de 18,6 milhões de brasileiros conviviam com a ansiedade, o que significa que cerca de 10% da população brasileira sofre ou já sofreu de TAG em algum momento da vida. Este transtorno é caracterizado por uma preocupação excessiva, persistente e difícil de controlar em relação a diversas áreas da vida, como trabalho, saúde, família e finanças. Pessoas com TAG podem sentir-se constantemente ansiosas e tensas, mesmo na ausência de ameaças ou problemas reais.

Situações que foram potencializadas pelo vírus, pelas mortes, pelo confinamento, e por todas as consequências da pandemia. Segundo Dr. Luiz Dieckmann, “a influência do mundo pós-Covid no TAG é complexa e multifacetada. Por um lado, a pandemia e suas consequências, como isolamento social, perdas econômicas e de entes queridos, podem ter exacerbado os sintomas de ansiedade em muitas pessoas. Além disso, a incerteza contínua em relação à situação global e às medidas de saúde pública pode alimentar a preocupação e a ansiedade características do TAG. Por outro lado, a maior conscientização sobre a saúde mental e a disponibilidade de recursos de apoio, como telemedicina e terapia online, podem facilitar o acesso ao tratamento e a melhoria dos sintomas para aqueles que sofrem de TAG”.

“os sintomas do TAG muitas vezes se confundem com as características da pessoa porque o transtorno se manifesta de maneira difusa e generalizada, além de muitas vezes começar muito cedo na vida. A preocupação e a tensão podem ser vistas como traços de personalidade, em vez de sintomas de um transtorno. Além disso, como a ansiedade é uma emoção comum e muitas vezes útil, pode ser difícil diferenciar quando a ansiedade se torna patológica. A chave é identificar se a ansiedade está afetando significativamente o funcionamento e o bem-estar diários da pessoa e se os sintomas são persistentes e desproporcionais às situações que os desencadeiam”, completa o profissional.

Para identificar o TAG, é importante procurar a avaliação de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra. Eles levarão em conta a duração e a intensidade dos sintomas e se a ansiedade está afetando negativamente a vida da pessoa. O diagnóstico de TAG geralmente envolve uma preocupação excessiva e difícil de controlar por pelo menos seis meses, juntamente com sintomas físicos e cognitivos associados à ansiedade.

O psiquiatra afirma que o tratamento do TAG geralmente envolve uma combinação de terapia, medicação e mudanças no estilo de vida: “A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem comum e eficaz, que ajuda as pessoas a identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para a ansiedade. Medicamentos, como antidepressivos e ansiolíticos, também podem ser prescritos para tratar os sintomas”.

“Além disso, mudanças no estilo de vida, como praticar exercícios físicos, manter uma alimentação saudável e adotar técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda, podem ajudar a gerenciar os sintomas de ansiedade. Cada pessoa é única, e um tratamento personalizado será elaborado pelo profissional de saúde mental com base nas necessidades e circunstâncias específicas do indivíduo”, continua Dieckmann.

“É possível minimizar os sintomas de ansiedade sem ajuda de especialistas e medicamentos, mas isso pode ser mais difícil e menos eficaz para algumas pessoas, especialmente aquelas com TAG mais grave. Mudanças de hábitos, como exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, sono adequado, redução do consumo de álcool e cafeína e técnicas de gerenciamento de estresse, como meditação e ioga, podem contribuir para a redução dos sintomas de ansiedade. No entanto, é importante lembrar que, em muitos casos, a ajuda de um profissional e, possivelmente, a medicação são essenciais para um tratamento eficaz”, completa.

Por fim, o profissional comenta sobre o que fazer em caso de suspeita de TAG, e ressalta também medidas que podem ser tomadas imediatamente para melhorar o estado, como procurar apoio de amigos e familiares, compartilhar as preocupações e sentimentos, praticar atividades físicas regularmente, aprender e aplicar técnicas de relaxamento e gerenciamento de estresse, como meditação, respiração profunda e ioga e, o mais importante, buscar a avaliação e o tratamento de um profissional de saúde mental.

“O TAG pode requerer cuidados ao longo da vida, mas isso varia de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem experimentar episódios temporários de ansiedade generalizada, enquanto outras podem precisar gerenciar os sintomas ao longo da vida. O tratamento contínuo e o monitoramento por um profissional de saúde mental, juntamente com a manutenção de hábitos saudáveis e técnicas de gerenciamento de estresse, podem ajudar a controlar o TAG e a manter a qualidade de vida”, finaliza Dr. Luiz Dieckmann.