Fabiana Justus revelou nesta quarta-feira, 27, que recebeu uma doação de medula óssea. A influenciadora foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda em janeiro e, desde então, tem passado por internações e quimioterapia.

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Em seu Instagram, a filha de Roberto Justus celebrou o fato de ter encontrado um doador compatível que teve rápida ação.

“A doença que eu tive é leucemia mieloide aguda e, por ser aguda, temos que agir super rápido em todo o tratamento. Desde que fui internada, comecei a fazer quimioterapia e desde então eles buscavam um doador que fosse 100% compatível comigo. Na minha família eu tinha doadores 50% compatíveis, o que seria o plano B, mas eles gostam de procurar um 100%. A maior bênção que Deus poderia ter me dado é um doador compatível comigo, e esse doador foi super solícito. De cara ele já falou que estava apto”, relatou, nos stories da rede social.

Como funciona o transplante de medula óssea?

À IstoÉ Gente, José Mauro Kutner, hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenador-geral do Centro de Competência em Terapias Avançadas (CCTA Einstein-Embrapii), gerenciado pelo Einstein, explica tudo sobre o procedimento que salvou a vida de Fabiana.

Segundo ele, o transplante é simples e, ao contrário do que muitos pensam, não é uma cirurgia. A coleta é feita por meio de punções do osso da bacia, prosseguindo para a aspiração do líquido da medula. “São múltiplas punções. Em cada uma delas é aspirado um pouquinho da medula do doador, que vai sendo colhida em uma bolsa. Então, laboratório do hospital que faz a coleta faz um processamento dessas células para tirar impurezas e contaminantes”, começa ele.

O médico ainda conta que o órgão pode ser congelado ou enviado ao receptor ainda fresco — e, para isso, ele precisa já ter passado pelos tratamentos de quimioterapia e/ou radioterapia, para que sua própria medula já tenha sido “destruída”.

“Uma vez destruída a medula do paciente, ele pode receber a nova, o que é feito de forma similar a uma transfusão de sangue, por meio de infusão na veia”, explica.

Apesar disso, o que é necessário para pacientes como a influenciadora não é, necessariamente, a medula, e sim as células-tronco nela presentes. Por isso, a coleta da medula pode ser substituída por um procedimento chamado aférese — que acontece com mais frequência do que a doação de medula.

“O lugar mais rico em células-tronco é a medula óssea, mas também existem muitas delas circulando no sangue. Dependendo da situação, é possível colher células-tronco a partir do sangue, em um procedimento que se chama aférese”, detalha José Mauro.

A aférese é realizada com a ajuda de um equipamento que realiza a punção de uma veia em cada braço do doador. “O sangue circula pela máquina, retira as células-tronco e devolve o resto pelo outro braço. A maioria dos procedimentos acontece por aférese, porque é mais simples para o doador, e não há necessidade de anestesia. É um processo que leva algumas horas, mas é totalmente ambulatorial”, continua o médico.

Após o transplante, as novas células-tronco demoram cerca de duas semanas para se dirigirem à medula.

Recuperação do transplante

José Mauro relata que, no período de adaptação, o receptor da medula não fabrica nenhuma célula sanguínea — glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas. Por isso, ele deve passar as duas semanas no hospital em isolamento e receber transfusões para evitar problemas como infecções, sangramentos, fraqueza e mais.

Como efeito colateral ao receptor, ele menciona a DECH, ou doença do enxerto contra o hospedeiro. “Todo mundo já ouviu falar em rejeição do corpo após o transplante de órgãos como rim e pulmão. Mas, nesse caso, a medula é o próprio órgão rejeitor: é ela que pode rejeitar o corpo no qual ela foi colocada”, destaca.

Para o doador, no entanto, os efeitos colaterais são considerados mínimos: além das raras reações adversas à anestesia local usada na hora da extração, é possível que a pessoa sofra com anemia por algumas semanas.

Como funcionam os bancos de medula?

Em seu desabafo, Fabiana ainda contou que seu doador é um homem de outro país. E é comum que isso aconteça, já que os bancos de doação de medula do mundo todo estão interligados.

Vale destacar, no entanto, que esses bancos não armazenam os órgãos em si, e sim as tipagens HLA — que podem ser descritas como o “código genético” de cada medula. Ao se cadastrar para ser doadora, uma pessoa passa por uma coleta de sangue, que é tipificado. O resultado é armazenado e, a partir daí, o doador pode ser contatado após anos do cadastro.

“Quando temos um paciente que precisa de medula, checamos primeiro entre membros da família. Se não tem ninguém compatível, procuramos no banco do Redome (Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea). Em caso negativo, procuramos nas centrais de doadores de medula de outros países. Cada país tem uma característica um pouco diferente, mas esses bancos estão em contato permanente entre si”, explica José Mauro.

Quando um doador é encontrado, aceita realizar a doação e está em condições de saúde que permitem que ele o faça, sua medula é novamente testada para confirmação da compatibilidade. Se tudo estiver certo, o órgão é extraído e enviado por meio de transporte aéreo ou terrestre, com a ajuda de empresas especializadas.