A transfusão de plasma com anticorpos para pacientes com covid-19 não diminui as chances de piora ou morte, de acordo com estudo realizado na Índia e publicado nesta quinta-feira (22), embora os responsáveis por outras pesquisas desse tipo em andamento discordem.

Com uma paleta de tratamentos atualmente muito limitada contra o novo coronavírus, enquanto pesquisas pelo mundo continuam buscando uma vacina eficaz, os primeiros resultados de testes clínicos com o objetivo de avaliar os efeitos de uma transfusão de plasma – a parte líquida do sangue que concentra anticorpos após uma doença -, método autorizado em países como a Índia ou os Estados Unidos, não parecem esperançosos.

“O plasma de convalescentes [da covid] mostrou eficácia limitada” no tratamento de novos pacientes com formas moderadas da doença, de acordo com o estudo conduzido na Índia e publicado na revista médica BMJ, que, no entanto, recomenda novos estudos concentrados em plasma contendo altos níveis de anticorpos neutralizantes.

De acordo com alguns estudos, a transfusão de plasma de pessoas com anticorpos é eficaz no tratamento do Ebola ou da SARS, que pertence à família do novo coronavírus.

No caso da covid-19, porém, estudos recentes sugerem uma possível eficácia do plasma.

Mas, no teste clínico indiano, conduzido com pacientes escolhidos por sorteio em dezenas de hospitais públicos e privados na Índia, os pesquisadores descobriram que esse método não reduziu a mortalidade ou evitou que pacientes em estados moderados piorassem.

O estudo, financiado pelo Conselho Indiano de Pesquisa Médica, recrutou 464 pacientes adultos, com idade média de 52 anos, entre abril e julho e os separou aleatoriamente em dois grupos.

Um grupo de 229 pacientes recebeu os cuidados habituais, enquanto outros 235 pacientes receberam transfusões de plasma de convalescentes, além do tratamento habitual.

Após 28 dias, 44 participantes (19%) no grupo que recebeu plasma e 41 (18%) no outro grupo desenvolveram uma forma grave da doença ou morreram.

Por outro lado, de acordo com o estudo, as transfusões de plasma ajudaram a melhorar as dificuldades respiratórias e a fadiga, enquanto o vírus se mostrou menos detectável após sete dias.

Este teste foi “rigoroso”, disse a especialista em saúde pública Elizabeth Pathak em declaração divulgado pelo BMJ.

Mas o Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha, que realiza o mesmo tipo de teste com plasma, se mostrou mais cauteloso, observando que o teste indiano usou plasma que continha de 6 a 10 vezes menos anticorpos do que os coletados no Reino Unido.

“Existem outros elementos promissores que indicam que o plasma convalescente com altos níveis de anticorpos pode melhorar a sorte dos pacientes”, disse ele.