Trama golpista: chefe da Marinha de Lula nega que houve ordem para uso de blindados

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Almirante Marcos Olsen, comandante da Marinha Foto: Divulgação/Senado

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, afirmou nesta sexta-feira, 23, desconhecer os motivos da ausência do ex-comandante Almir Garnier na cerimônia de passagem do cargo e reafirmou a nota da Força, que refutou investigação da Polícia Federal e assinalou que não havia ordem para o uso de blindados na suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Olsen negou ter recebido ordens de Garnier para empregar as tropas e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como apontam as investigações. “Não recebi qualquer determinação nesse sentido“, respondeu, após ser questionado pela defesa do antecessor na condição de testemunha em audiência na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal).

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Marinha na trama golpista

Em 5 de janeiro de 2023, nos primeiros dias do mandato de Lula, Garnier decidiu se ausentar da cerimônia para passar o cargo para Olsen — algo que não havia ocorrido na história da corporação. “Ele não apresentou qualquer razão para sua ausência à cerimônia de transferência do cargo. Desconheço as razões”, disse Olsen.

Segundo depoimento dado pelo ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior ao STF na quarta-feira, 21, Garnier, então chefe da Marinha, colocou as tropas à disposição de Jair Bolsonaro (PL) para o plano de ruptura institucional que o manteria no poder após a derrota nas urnas. Olsen disse não ter conhecimento das reuniões e que só ficou sabendo dos acontecimentos pela imprensa.

Tanto o procurador-geral da República, Paulo Gonet, quanto o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, insistiram na ausência de Garnier da cerimônia de passagem do cargo. “Nessa cerimônia o Garnier não compareceu, rompendo uma tradição”, questionou o magistrado. “Não há registro de ausência do comandante que passa em ocasiões anteriores”, respondeu Olsen.

Como relatou a IstoÉ, essa foi uma das ambiguidades demonstradas pelo comando militar já com a trama golpista frustrada. No início de 2023, os comandantes das Forças Armadas sob Bolsonaro cogitaram não realizar a passagem do cargo aos nomeados por Lula, no que seria um sinal de insubordinação ao novo chefe do Palácio do Planalto — e, por consequência, da caserna — e fidelidade ao ex-presidente, mas foram demovidos da ideia pelo ministro da Defesa do petista, José Múcio, conforme reportou o jornal O Estado de S. Paulo.

Comandantes na trama golpista

Conforme as provas levantadas pela Polícia Federal e apresentadas como denúncia pela PGR (Procuradoria-Geral da Repúblic), Garnier colocou suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro (PL) ao ser apresentado pelo mandatário a um plano de ruptura institucional. Na ocasião, segundo o general Marco Antônio Freire Gomes, que comandava o Exército, ele e o brigadeiro Baptista Júnior, chefe da Aeronáutica, recusaram a proposta.

Essa versão foi confirmada por Baptista na quarta-feira, 21, em depoimento ao tribunal. “Em uma dessas [reuniões], ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”, disse o brigadeiro, que acrescentou ter alertado o ex-presidente sobre a inexistência de fraude nas urnas eletrônicas em 2022.

Na segunda-feira, 19, Freire Gomes também depôs ao STF e confirmou que os chefes das Forças Armadas foram apresentados ao plano, mas alterou a versão dada aos policiais e não repetiu que o comandante da Marinha colocou as tropas à disposição, razão pela qual foi questionado pelo ministro Alexandre de Moraes. O general relatou que, na reunião, Garnier disse que “estava com o presidente”, mas que não poderia interpretar essa fala.

Nesta sexta-feira, 23, Moraes ameaçou prender o ex-ministro Aldo Rebelo, que depôs como testemunha do almirante Almir Garnier.  No momento da ameaça de prisão, Rebelo respondia sobre a reunião em que Garnier teria colocado as tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro para o plano de ruptura institucional. Segundo o ex-ministro, que comandou a Defesa entre 2015 e 2016, a língua portuguesa é repleta de “forças de expressão”. “O senhor estava na reunião? Então, não tem condições avaliar a língua portuguesa”, disse Moraes.

São réus 31 dos 34 denunciados no processo. Se condenados, eles poderão pegar mais de 43 anos de prisão pela participação na trama golpista.

A cronologia da trama golpista