Por Bianca Zaramella Fotos Gabriel Chiarastelli / Ag. IstoÉ Após um almoço no restaurante Rodeio, um de seus preferidos em São Paulo, Reinaldo Lourenço observava tranquilamente o movimento de sua loja na rua Bela Cintra. ?Gosto de passar aqui neste horário. As coisas na fábrica já estão encaminhadas hoje?, disse ele. Além do ponto de venda nos Jardins, Reinaldo está presente em mais de 120 multimarcas brasileiras e também em lojas de luxo na Europa. Neste mês de agosto, o estilista trabalha em sua coleção de Inverno 2013, que será apresentada no São Paulo Fashion Week, no final de outubro. ?Rabisco tudo neste caderno. Tem minha vida aqui?, brinca ele, ao mostrar seu moleskine preto. Em fevereiro, o estilista lançará uma coleção masculina exclusiva para a Daslu. ?Quero fazer roupas de qualidade com as quais o homem se identifique. Isso veio com a minha própria vontade de ter roupas mais contemporâneas. Só encontrava roupas comuns. O homem gosta de conforto, mas sempre busca um bom corte também.? Nesta entrevista à Gente, Reinaldo relembra a infância e o início na moda, fala sobre a relação com a ex-mulher, Gloria Coelho, da carreira do filho, Pedro Lourenço e sobre o que é ser elegante nos dias de hoje. ?A mulher pode sair do trabalho e ir a uma festa ou ao teatro com a mesma roupa. A elegância está muito mais na alma da pessoa do que em qualquer outra coisa.? Qual é o caminho para uma mulher se tornar bem-vestida? Reinaldo: Os códigos mudaram. Há um novo tipo de elegância, mais despojada e descontraída. A mulher não tem de se preocupar tanto em ficar perfeita, com a roupa perfeita, o cabelo e a maquiagem perfeitos. Isso pode ficar ?over?. No Red Carpet muitas atrizes já têm essa atitude. Estão com o cabelo levemente desestruturado ou apostam em vestido mais simples quando estão com uma beleza muito elaborada. O erro é se vestir mais para os outros do que para si próprio. A mulher segura é sempre a mais elegante da festa. Quem é assim, na sua opinião? Carine Roitfeld (ex-editora da Vogue francesa). Ela está sempre com a mesma silhueta ajustada e tem noção da própria estética. O sportswear trouxe conforto e foi uma grande mudança no modo de se vestir da mulher contemporânea. Como evitar a deselegância? Tomar cuidado com o corpo faz parte do pensamento do brasileiro e estamos ainda aprendendo a buscar o equilíbrio entre expor o corpo e escondê-lo. Se você usa um decote a mais, procure um comprimento mais longo. Se prefere minissaia, cubra os braços. No que a mulher deve investir hoje para se tornar elegante? No conforto e em peças exclusivas. E você descobre a elegância de uma pessoa pela casa dela também. Na intimidade é que você descobre quem a pessoa realmente é. Acredito também no ?diga-me com quem andas que te direi quem és?. É bíblico isso. O que faz alguém vestir uma roupa Reinaldo Lourenço? Às vezes me pego pensando: ?Meu Deus, tem tanta roupa no mundo! Por isso estou sempre em busca de perfeição. As mulheres que vestem a minha marca sabem que minha roupa tem história e um cuidado com a modelagem, costura e acabamento. Como é o seu processo criativo? Uma vez tive uma ideia quando bati o carro. Observei as formas arredondadas do carro da frente, a cor, o design. Criei uma coleção inspirada em carros dos anos 60. Também sou viciado em Instagram e Tumbler. Passo o dia vendo o que postam. E eu tenho um acervo enorme de peças antigas em casa. Tenho trajes vitorianos e roupas de outras décadas que achei em viagens e brechós. E tenho encontrado muita coisa no e-Bay. E essa história de estilista ser criativo e não pensar nos negócios não existe há um bom tempo. Já pensou em vender sua marca? Quase vendi uma parte, mas desisti. Tenho receio de a marca perder a identidade. Só faria negócio se continuasse à frente do processo criativo. Me vejo fazendo isso até o final da vida. Tenho personalidade forte e não conseguiria dar minha marca para alguém. A moda brasileira é muito cara? Não acho minhas roupas caras. Em loja, os vestidos casuais custam de R$ 700 a R$ 1.500. Os modelos de festa vão de R$ 5 mil a R$ 8 mil. Fizemos uma pesquisa com mais de 100 marcas e acredito que temos um preço de acordo com o custo de elaboração de cada peça. Não uso qualquer tecido ou aviamento. Busco qualidade e a cliente da marca sabe o preço disso. O problema é que temos taxas muito altas, impostos e um custo de mão de obra caro. Meu produto é totalmente feito no Brasil. Eu vejo futuro para o setor. Só precisamos de apoio do governo para isso. Como começou sua história com a moda? Minha mãe, Dirce, gostava de costurar, mas tínhamos a costureira que fazia a roupa da família. Dona Ruth vinha em casa com os tecidos e modelos. Comecei a usar roupa sob medida com 3 anos. Com 10, fiz alguns lenços para vender na escola. Acho que foi quando começou a cair a minha ficha. Aos 15, passei a fazer roupas para os amigos. Meu quarto acabou virando uma loja e eu vendia camisetas. Quais eram suas referências na época? Era tudo meio Fiorucci, com formas oversize, do início dos anos 80. Eu gostava de rock, de James Dean e do cabelo dele. Como era o Reinaldo adolescente? Eu era o filho do diretor da escola, o professor Reinaldo. E minha mãe era a professora, em Presidente Prudente (SP). Imagina como era isso? Estudava o dia todo com minha mãe para dar o exemplo. E meu pai era bem severo. Quando ele passava no corredor da escola era um silêncio só. Era tempo do New Wave, do B-52?s e Bee Gees. Amava o David Bowie e sua androgenia. Me lembro que também foi a minha libertação do uniforme da escola. E quando veio para São Paulo? Quando cheguei só usava preto, sapatos de bico fino e cabelo de topete. Era o auge dos estilistas japoneses como Yohji Yamamoto e Issey Miyake. Sabia que teria que vir para cá para entrar no mundo da moda de verdade. O que faria se não fosse estilista? Acho que seria arquiteto, sempre fui bom em exatas e gostava dos traços geométricos. Aliás, sempre tinha uma japonesa melhor que eu na escola! (risos) Como conheceu Gloria Coelho? Foi em uma festa em Prudente. Fui convidado por uma amiga nossa em comum, a Verônica, que tinha organizado uma festa com show do Cauby Peixoto para comemorar o Ano Novo. Foi uma noite muito divertida! Foi amor à primeira vista? Não posso afirmar, mas sempre guardei a lembrança daquele dia. Me lembro do vestido que ela usava. Era um modelo de renda marrom. Logo percebi que tínhamos o mesmo gosto para a moda. Tinha 18 anos e ficamos conversando até as 4 horas da manhã. Como foi após esse primeiro encontro? Ela era casada com um dono de tecelagem chamado Zé Roberto. Depois fiquei sabendo que ela havia se separado. Era 1982 estava me mudando para São Paulo. Fui trabalhar com ela. Só nos casamos de 1984 para 1985. E como foi a separação de vocês? Foram 21 anos juntos e eu não sabia o que era ser sozinho, estar sozinho. Tive que mudar de casa, organizar o meu espaço e criar uma administração pessoal, mas acho que já estava me preparando para isso. Cheguei em um momento em que precisava me conhecer, estar comigo mesmo e me encontrar. Foi difícil esse processo. Mas sempre fomos amigos e isso está de volta agora. O que faz quando não está trabalhando? Gosto de sair com os amigos, mas também fico muito em casa com meus livros de moda e arquitetura. Amo ver filmes também, Blade Runner é um dos meus preferidos. E gosto de viajar. Amo as praias do Nordeste e sempre que posso fujo para tomar sol. De quais praias você gosta? Gosto de praia deserta, para tomar sol mes-mo, sem me preocupar. Já foi a uma praia de nudismo? Já visitei, mas não estava nu. Fui só para ver como era. Tenho uma relação muito forte com o vestir. É uma linguagem que faz parte da minha vida e na nossa cultura não se pratica o nudismo como é feito em alguns países da Europa. O próprio topless nos causa estranhamento. Muitas vezes é mais honesto estar pelado do que usar uma roupa ruim. E a sua ligação com a astrologia? Como começou? Sou canceriano. Até sei ler mapa astral, sabia? A (astróloga) Lydia Vainer disse que meu aprendizado foi natural. Tudo começou com o nascimento do Pedro, em 1990. A astrologia é uma forma de conhecimento. Mas não sou fanático, só acho interessante. Como enxerga a relação da moda com as novelas e celebridades? Adoro novela. Acho que é uma forma de mostrar o tempo de hoje. Nos anos 80, era um figurino mais específico, nos anos 90, ficou mais pop. Hoje existe todo um universo pessoal para cada personagem. Esse trabalho das celebridades usarem determinados estilistas começou com a Madonna. Ela é o grande exemplo. Soube usar toda essa estética para se apresentar para o mundo. Muitas atrizes usam suas roupas, não é? Muitas mesmo! E o melhor é que elas compram as roupas. A Débora Bloch é uma que sabe se vestir de forma elegante e usa as minhas roupas. Alinne Moraes também estava linda com um vestido meu em Cannes. Carolina Ferraz, Carolina Dieckmann e Malu Mader também gostam da minha marca. Como foi para você ver seu filho, Pedro, se destacar no mundo da moda tão cedo? Ele sabia o que queria desde cedo, como eu. Ele quis ser estilista e isso aconteceu de forma natural. O primeiro desfile que fez, quando tinha só 12 anos, recebeu muitas críticas. Disse para ele se acalmar e ir em frente. Ele conseguiu. Siga Gente no Twitter!