Guilherme Amado Coluna

Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

‘Tragam nossos filhos em segurança’, pede mãe de brasileiro no Irã

Mãe de músico abrigado em embaixada em Teerã pede pressa ao governo brasileiro

Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Quando estava na Espanha, dez anos atrás, o músico Silvio Vahid Tavares, 47, conheceu dois colegas iranianos e ficou ainda mais apaixonado pela língua que eles falavam. Começou a estudar por conta própria. Sua mãe, a socióloga Neda Mohtadi, falava farsi, aprendido de seus pais. Mas não sabia ler ou escrever no idioma.

Silvio levou dez anos se preparando para a grande viagem ao Irã, onde esperava aprender academicamente a língua persa na universidade. Só para conseguir o visto, foram dois anos. Mas ele superou a espera e chegou a Teerã dez dias antes dos primeiros bombardeios ao Irã. Começou a cursar a universidade e a conhecer a milenar capital do Irã até que, numa madrugada, foi acordado por um telefonema de sua mãe, aflita com a notícia dos primeiros mísseis disparados por Israel.

“Ele nem sabia o que estava acontecendo e eu só queria me certificar de que ele estava bem. Uma coisa que me tranquilizava era que ele estava no alojamento da Universidade de Teerã, mas os bombardeios e os riscos aumentaram”, contou ela em entrevista à coluna.

Assustado com o recrudescimento dos ataques, Silvio ligou para a Embaixada do Brasil em Teerã e foi aconselhado a seguir para aquela área diplomática, onde era mais seguro se instalar. O músico está desde o dia 16 na embaixada. Com ele, segue um outro brasileiro, com a mesma orientação de não deixar o local. Trata-se do técnico de handebol de areia Antonio Guerra Peixe, que chegou ao Irã em abril para treinar o time local.

Como fala o farsi e domina o inglês, Silvio tem ajudado os funcionários da embaixada a contatar outras famílias que tenham brasileiros para organizar um retorno ao Brasil. De Curitiba, Neda segue cada notícia com apreensão. Primeiro, teve a esperança de encontrar logo o filho, quando a embaixada planejou uma saída pelo Azerbaijão. A ideia foi descartada.

Silvio Tavares

Os brasileiros têm eletricidade, água e alimentos na embaixada. Mas a comunicação é frágil. O serviço de internet foi cortado e algumas vezes é difícil até falar por telefone.

A coluna procurou o Itamaraty, que informou estar avaliando as condições de segurança no Irã e em Israel para realizar o retorno dos brasileiros. Nenhuma operação é informada por questões de segurança. Não foi divulgada também nenhuma estimativa de quantas pessoas precisam da remoção dessas áreas de risco.

Na semana passada, o Itamaraty, por meio das embaixadas, fez duas remoções de autoridades municipais brasileiras que participavam de um evento sobre segurança e tecnologia em Israel, a convite daquele governo. Mas ainda não houve resgate dos que estão no Irã.

“Ainda bem que temos um governo progressista e que o presidente Lula tem boas relações com o Irã. Acho que isso ajuda”, disse a socióloga, que afirmou que o filho tem sido bem tratado na embaixada, mas que o temor é muito grande.

A mãe de Silvio diz que sabe que é difícil fazer a extração dos brasileiros, mas que a situação é de emergência. “É que a gente a gente não sabe o desenrolar disso e se não vai ficar mais difícil a saída deles de Teerã.”

A socióloga pediu pressa e fez um apelo ao Itamaraty: “Tragam o meu filho, os nossos filhos, em segurança.”