Historicamente o vape, sinônimo para cigarro eletrônico, foi embalado em diversas mentiras. A primeira é que pode contribuir para que as pessoas abandonem o vício de fumar. Nesse caso, a situação contrária é verdadeira. O dispositivo se tornou um atrativo sedutor para os adolescentes e estima-se que 90% dos fumantes iniciaram a prática antes dos 19 anos. Apesar de o País ter se tornado uma referência mundial por adotar todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o combate ao tabagismo, a dependência da nicotina ainda mata cerca de 430 pessoas por dia, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Mais, se a ação fosse abolida, mais de 156 mil vidas seriam poupadas anualmente no Brasil. Propiciar o fim do uso do tabaco é apenas uma das falsidades contadas sobre o cigarro eletrônico, vendido livremente no Brasil, apesar de proibido. Segundo Felipe Marques da Costa, pneumologista do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, há, no mínimo, mais três: não existe controle de qualidade sobre o dispositivo, há insegurança sobre os componentes químicos presentes no produto e não há dados científicos robustos que garantam que seu uso é menos danoso ao organismo do que o cigarro comum. “As substâncias encontradas no cigarro eletrônico nem sempre são as mesmas que aparecem nos testes”, explica o médico. “Além disso, quando os componentes mencionados são aquecidos, podem sofrer alterações e se tornar prejudiciais à saúde.”

No Brasil, a produção e a comercialização do produto estão proibidas desde 2009. Mas, de fato, é possível comprá-lo abertamente em muitos estabelecimentos comerciais, como tabacarias e bancas de jornal. Esse foi o caso de Lélio Guedes, 45, cantor e compositor, que mora na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal. Mesmo não sendo fumante, ele comprou o dispositivo por R$ 70. Induzido por um colega, ele buscava relaxar e sentir o frescor proporcionado pelos aromatizantes. Mas o que era para ser uma fonte de prazer virou dor. Como o médico alertou, o aparelho não é confiável. Na primeira tragada que Guedes tentou, o cigarro eletrônico esquentou e explodiu. Rapidamente o músico jogou a engenhoca no chão. “Foi um susto, achei que iria queimar a minha boca e a casa”, contou. Por sorte, a história só causou espanto, as câmeras de segurança captaram o ocorrido e o vídeo foi postado nas mídias sociais e viralizou. O bem-humorado Lélio Guedes transformou o episódio apavorante em música e seu exemplo serve, no final das contas, para esclarecer que o cigarro eletrônico é mais perigoso do que parece.