Áudios e mensagens recuperados pela Polícia Federal indicam que a quadrilha de traficantes que enviava cocaína para o exterior a partir do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, usava a senha ‘futebol’ para se referir à sua ousada estratégia de ação – o despacho de malas carregadas de drogas com etiquetas de bagagens trocadas, esquema que acabou levando à prisão duas brasileiras inocentes, em março, pela Polícia da Alemanha.

O código também era usado para embarque de malas de passageiros fantasmas, que não estavam cadastrados nos voos, geralmente com destino a países europeus.

A palavra-chave ‘futebol’ foi descoberta pelos agentes da Polícia Federal da Operação Colateral, que teve sua segunda fase aberta na manhã desta terça, 18, no rastro dos mandantes, recrutadores e planejadores do tráfico de cocaína para o exterior. Os federais resgataram diálogos nos celulares dos suspeitos.

A quadrilha seria responsável não só pela remessa de 40 quilos de cocaína que culminou na prisão das goianas Kátyna Baía e Jeanne Paolini, em território alemão, mas também por outras duas remessas de drogas, pelo menos, para fora do País, via Cumbica.

A PF saiu às ruas nesta terça para cumprir 18 ordens de prisão contra envolvidos no esquema. Todos os alvos de mandado de prisão preventiva, 16, já foram capturados.

As ordens foram expedidas pelo juiz Márcio Augusto de Melo Matos, da 6ª Vara Federal de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele detalhou os achados na PF em uma decisão de 34 páginas.

Os investigadores requereram autorização para a segunda fase ostensiva da Operação Colateral após análise de mensagens recuperadas nos celulares de duas investigadas.

Uma delas era funcionária da Gol. Tamiris Macedo da Silva Zacharias foi filmada recebendo as malas com drogas que chegaram da rua, diz a PF. As imagens mostram Tamiris dando entrada no recheckin da empresa aérea no caso das brasileiras presas na Alemanha.

A outra suspeita é Carolina Helena Pennacchiotti, apontada como ‘executora’ do tráfico, além de mentora intelectual e recrutadora de uma remessa de 43 quilos de cocaína para Portugal.

A análise dos diálogos de Tamiris e Carolina levou a PF aos supostos líderes da quadrilha. Os agentes descortinaram a logística das operações do tráfico internacional, via esquema de troca de etiquetas de bagagens em Cumbica.

Segundo os investigadores, o grupo usava os termos ‘futebol’ ou ‘fut’ para se referir ao tráfico. Já a palavra ‘café’ estaria ligado ao pagamento pelo crime.

Os investigadores levaram à Justiça alguns exemplos de diálogos cifrados entre Carolina e os supostos integrantes da quadrilha investigada.

Os federais identificaram outro integrante do grupo, Matheus Luiz Melo da Silva, o ‘Man’, a quem os cúmplices se referiam como ‘meio campo’. Ele seria o responsável pelas negociações entre os donos da droga e Carolina.

Em um diálogo resgatado pelos agentes, ela disse. ‘Sábado quero bater esse fut.” Ele devolveu. “Então, vou agilizar para fazer acontecer esse futebol.”

Após ser confirmada a tentativa de remessa de cocaína para o exterior, ‘Man’ diz: “Amanhã tem o futebol, tá bom? A gente vai jogar amanhã tá?”

Um outro diálogo periciado pela PF ocorreu no dia da remessa dos 40 quilos de cocaína que levou Kátyna Baía e Jeanne Paolini à prisão alemã. No dia 4 de março – um dia antes de as goianas serem capturadas pela Polícia do país europeu – Carolina diz à sua mãe que ‘está no aeroporto esperando decidir se vai ter outro futebol’. “Então, eu to aqui fora esperando a Tamiris mandar a bola”, disse a investigada na ligação com sua mãe.

COM A PALAVRA, OS CITADOS

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com os investigados, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA A GOL

Até a publicação deste texto, a reportagem entrou em contato com a empresa, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.