O Reino Unido pode estar a um mundo de distância, mas o futuro de uma empresa familiar de 500 anos de idade no Japão rural pode depender da decisão do país de sair da União Europeia.

Chikumeido, um fabricante de chasen, um delicado batedor de chá de bambu usado em cerimônias tradicionais, começou a vender os produtos de nicho no Reino Unido no ano passado, no que foi o seu primeiro grande impulso no exterior.

O presidente da companhia, Sabun Kubo, de 71 anos, esperava que a aposta iria trazer resultados ao lançar sua pequena empresa no potencialmente lucrativo mercado europeu, compensando os anos de quedas nas vendas.

As coisas começaram bem para a empresa, que já foi administrada por 24 gerações da família de Kubo. Então, o Reino Unido votou para sair da UE.

“Nós começamos a exportar para Londres no ano passado, como nossa base de vendas na Europa”, disse o artesão septuagenário.

“Isso foi parte dos nossos esforços de arriscar fazer negócios no exterior. Eu pensei que nossos produtos seriam bem recebidos na Europa, especialmente no Reino Unido, onde há uma cultura do chá. Mas então, de repente, o Brexit aconteceu. Foi um choque”, lamentou o empresário.

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Desde a votação de 23 de junho, as empresas no Japão e na Ásia vêm tentando descobrir como elas vão ser afetadas pelo Brexit – e o que devem fazer sobre isso.

As corporações do Japão também foram atingidas pela alta acentuada que as preocupações sobre a votação provocaram no iene. A moeda é vista como um investimento seguro em tempos tumultuados, mas sua ascensão diminui a rentabilidade dos exportadores japoneses.

A ameaça à empresa de Kubo mostra como o voto pela ruptura não afeta apenas gigantes multinacionais como a Toyota e a Hitachi, que têm grandes operações na Inglaterra.

Sem motivos para otimismo

Mais de 1.000 empresas japonesas têm negócios no Reino Unido, empregando cerca de 140.000 pessoas locais, e os investimentos diretos do Japão no país ultrapassam 10 trilhões de ienes (99 bilhões de dólares).

“O principal problema para as empresas japonesas é que os mercados individuais europeus são muito pequenos e diversificados, com diferentes línguas e culturas de negócios, e muitas vezes com diferentes padrões”, disse Martin Schulz, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Fujitsu, em Tóquio.

“Eles realmente precisam de uma posição desde onde possam servir o mercado global. Essa posição é Londres”, acrescenta.

Para Kubo, o Brexit aumenta as preocupações sobre os 100 empregados que trabalham para a sua empresa perto da cidade Nara, repleta de templos e uma das antigas capitais do Japão.

A Chikumeido é conhecida nacionalmente por ser um dos únicos fabricantes capazes de produzir 120 diferentes tipos de chasen.

Esses pequenos utensílios são feitos à mão a partir de um único pedaço de bambu. Eles ocupam o lugar central em uma cerimônia formal, normalmente realizada em uma sala com solo de tatâmi, que inclui beber matcha, uma forma em pó de chá verde.

“Quando você está fazendo o chá, você precisa ter uma ferramenta para bater a superfície de forma a criar uma espuma”, disse Kubo sobre a o efeito do chasen na bebida verde-esmeralda.


Mas o negócio do batedor de chá passa por um momento difícil no Japão, conforme produtos rivais de baixo custo da China e da Coreia do Sul ganham espaço em um mercado que vem encolhendo.

Por volta de 1970, o período de auge de vendas, 50 fabricantes movimentavam cerca de um milhão de batedores de chá por ano.

Hoje, o número de fabricantes caiu para menos da metade, enquanto o número de produtos vendidos diminuiu para cerca de 300.000 por ano, disse Kubo, acrescentando que sua empresa controla cerca de 30% do mercado doméstico.

Embora a empresa já tivesse vendido anteriormente alguns produtos no exterior para compradores japoneses, no ano passado começou a vender através de atacadistas.

Os batedores foram colocado à venda em lojas de departamento na Inglaterra por cerca de 50 dólares cada.

“Depois do Brexit e agora com o iene forte, eu realmente estou me perguntando como isso vai mudar nossos negócios no exterior, começando pela Inglaterra”, disse Kubo.

“Eu não tenho muitos motivos para estar otimista”, completou.


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