Eyal Vardi votou no Partido Trabalhista israelense a maior parte de sua vida, mas agora, nas eleições de 9 de abril, quer apoiar um candidato com chances de ganhar – mais um sinal da perda de influência desta sigla que foi dominante durante anos.

Em uma reunião recente em Jerusalém com um candidato de outro partido, Eyal Vardi, de 60 anos, reclamou que os trabalhistas abandonaram suas raízes de esquerda.

Por isso, agora votará no Partido Azul e Branco. “Não são realmente diferentes. Por isso, é melhor dar meu voto para eles”, afirmou, elogiando o candidato Michael Biton.

A decisão de Vardi é simbólica do desencanto dos eleitores do Partido Trabalhista, que dominou a política israelense nos anos posteriores à fundação do país, em 1948, e que, em 1990, tornou possível os acordos de paz de Oslo com os palestinos.

Sua influência se diluiu, porém, e a política israelense girou para a direita.

Sob a liderança de Avi Gabbay, que chegou em 2017, os trabalhistas abandonaram, em grande medida, seu passado pacifista. Segundo as pesquisas, nas eleições de 9 de abril podem conseguir dez do total de 120 cadeiras do Parlamento.

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Agora, a principal ameaça para o Likud, partido de extrema direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, é o Azul e Branco, liderado pelo ex-chefe militar Benny Gantz.

O Partido Trabalhista, antes chamado Mapai, liderou a política israelense até 1977, ocasião da chegada do Likud. Desde então, ocupou o poder por oito anos, dois deles como parte de um governo de unidade com o Likud.

Esse período incluiu os acordos de Oslo de 1990, negociados pelo primeiro-ministro Yitzhak Rabin e pelo então ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres.

Rabin foi assassinado por um extremista judeu em 1995, e os acordos de Oslo continuam sendo alvo de controvérsia entre os israelenses.

Em 1999, a vitória de Ehud Barak e de seu governo de dois anos foram a última vez que houve uma coalizão liderada pelos trabalhistas.

Em 2015, uma fusão de último minuto com o centrista Hatnuah para formar a União Sionista o ajudou a conquistar o segundo maior bloco parlamentar, depois do Likud.

Este ano, porém, concorrendo sozinho, dificilmente os trabalhistas conseguirão algo melhor do que um terceiro lugar. Assim como muitos de seus eleitores, seus dirigentes também debandaram para outros partidos.

O próprio Michael Biton, agora candidato do Azul e Branco, foi duas vezes prefeito da cidade de Yeruham pelo Partido Trabalhista.

“Historicamente, [o Partido Trabalhista] se identificou com o processo de Oslo”, disse Shmuel Rosner, um pesquisador do Instituto de Políticas do Povo Judeu.

Esses acordos não conseguiram, porém, selar uma paz duradoura. A Segunda Intifada palestina, que começou em 2000, é considerada por muitos israelenses como a prova de que os acordos foram um equívoco.

“Tão logo o processo se esvaneceu e se tornou inaceitável para os judeus em Israel, o Partido Trabalhista não conseguiu se mover rapidamente para o centro”, acrescentou Rosner.


O centro foi ocupado por novos partidos, ao mesmo tempo em que o espaço dos trabalhistas para a esquerda foi captado pelo Partido Meretz. “Os trabalhistas ficaram em um limbo”, completou o analista.

Outro fator do declínio da legenda são as mudanças demográficas.

Historicamente, os eleitores trabalhistas eram judeus de origem europeia, de comunidades agrícolas e muito seculares, uma população agora em queda.

Não conseguiram, contudo, conectar-se com setores que apresentaram crescimento, como os judeus do Oriente Médio e do norte da África. Isso explica a decisão de escolher como líder Gabay, um homem de origem marroquina.

Tanyah Murkes, de 34 anos e que vive na cidade de Modiin, hesita entre os trabalhistas, Azul e Blanco e Meretz.

“Acredito que, no fim das contas, votarei nos trabalhistas para fortalecer a esquerda israelense”, declarou esta diretora de uma ONG que promove a participação de mulheres nas instituições de relações exteriores e de segurança nacional.


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