27/09/2022 - 13:21
O líder trabalhista britânico, Keir Starmer, defendeu nesta terça-feira (27) que seu partido, mais centrista sob sua direção, está de novo preparado para governar, superando anos de divisões internas e impulsionado pelas dificuldades do Executivo conservador frente à crise econômica.
Em uma sala lotada, Starmer, um ex-advogado de direitos humanos de 60 anos, fez o discurso de encerramento do congresso anual do Partido Trabalhista, principal força da oposição, realizado em Liverpool, no norte pós-industrial da Inglaterra.
Em um momento de crescente crise econômica no Reino Unido, ele intensificou os ataques à nova primeira-ministra conservadora, Liz Truss.
“O governo perdeu o controle da economia, e para quê? Fizeram a libra cair, para quê?”, lançou. “Não por vocês, não pelos trabalhadores, mas para reduzir os impostos do 1% mais rico da nossa sociedade”, acrescentou.
“Nem esquecimento, nem perdão”, prometeu, sob aplausos de suas bases.
“A única maneira de acabar com isso é com um governo trabalhista”, defendeu.
O recente anúncio de Truss de um amplo plano de corte de impostos financiado com a dívida pública levou a libra a despencar até seu nível mais baixo da história e elevou as taxas de juros.
Isso mostra um medo dos mercados que agrava a impopularidade da chefe de governo, menos de um mês depois de sua chegada ao poder e após o longo hiato político pela morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro.
– “Estamos unidos” –
Nesse contexto, os trabalhistas, há 12 anos na oposição, mostram-se mais unidos do que nunca em suas críticas ao governo conservador.
“Sinto um clima muito positivo aqui, estamos unidos”, disse à AFP Mary Stiles, 75, ex-vereadora do centro da Inglaterra.
O centrista Starmer sucedeu a Jeremy Corbyn na liderança do partido em 2020. Em uma legenda profundamente dividida, enfrentou um começo difícil. Foi, no entanto, ganhando confiança gradualmente, e agora se vê encorajado por pesquisas favoráveis nos últimos meses.
O também difícil início de Truss, eleita pela base conservadora com uma plataforma ultraliberal, acentuou essa tendência. A pesquisa mais recente do YouGov dá aos trabalhistas uma vantagem de 17 pontos percentuais sobre os conservadores, se as eleições gerais fossem realizadas hoje. É a maior vantagem desde a época de Tony Blair (1997-2007).
As eleições legislativas estão marcadas somente para janeiro de 2025.
Enquanto esperam, os trabalhistas terão de ser pacientes em sua tentativa de tirar proveito das dificuldades do governo diante da crise inflacionária no país. Por enquanto, a estratégia centrista de Starmer não lhe rendeu nenhum amigo entre os sindicatos, aliados tradicionais e grandes financiadores do Partido Trabalhista.
Em um contexto de múltiplas greves, o líder da oposição pediu aos dirigentes do partido que não aparecessem em piquetes, e foi criticado por isso.
Agora, em Liverpool, alguns membros da sigla defenderam essa posição, para mostrar que, longe dos anos radicais de Corbyn, o partido está pronto para voltar a governar.