Depois de ser rejeitado em quase 50 entrevistas para trabalhos de consultoria na França, apesar de sua alta qualificação, Adam, muçulmano, fez as malas rumo a uma nova vida em Dubai.

“Me sinto muito melhor aqui que na França”, declarou à AFP o francês de 32 anos, de ascendência norte-africana. “Aqui todos somos iguais. Pode ter um chefe indiano, árabe ou francês (…) Minha religião é mais aceita”, destaca.

Franceses muçulmanos, frequentemente filhos de imigrantes, e altamente qualificados estão deixado a França em uma silenciosa fuga de cérebros, buscando um recomeço em cidades como Londres, Nova York ou Dubai, segundo um estudo publicado em abril.

Os autores de “França, você a ama mas a abandona”, a firmaram ue era difícil estimar exatamente quantos, mas que 71% das mais de 1.000 pessoas que responderam ao seu questionário divulgado online citaram o racismo e a discriminação como suas causas.

Na França, você “tem que trabalhar o dobro quando se pertence a determinadas minorias”, afirma Adam, que pediu para não ter o sobrenome publicado, assim como as demais pessoas entrevistadas pela AFP.

O homem sente falta de seus amigos, de sua família e da cultura francesa, mas assegura que está feliz de ter abandonado a “islamofobia” e o “racismo sistêmico”, assim como as abordagens policiais sem motivo.

– “Cidadãos de segunda classe” –

A França foi durante muito tempo um país de imigração, inclusive de suas antigas colônias na África.

Mas hoje os descendentes de imigrantes muçulmanos que chegaram à França em busca de um futuro melhor dizem que vivem em um ambiente cada vez mais hostil, especialmente desde os ataques jihadistas em Paris em 2015.

“O ambiente na França se deteriorou muito. Como muçulmanos, as pessoas nos apontam”, diz um bancário franco-argelino de 30 anos, que deve ir para Dubai em junho.

Esse filho de uma faxineira argelina e com dois mestrados também acredita que enfrentou “um teto de vidro” em sua carreira profissional. “Os muçulmanos são claramente cidadãos de segunda classe”, assegura.

Uma lei francesa de 1978 proíbe coletar dados sobre as origens étnicas ou a religião de uma pessoa, o que dificulta o registro de estatísticas amplas sobre a discriminação.

Mas diversos relatórios e pesquisas apontam há anos as discriminações que as pessoas de origem imigrante sofrem na busca de emprego, casa, nos revistas da polícia, etc.

O último informe do Observatório das Desigualdades aponta que cerca de 60% dos franceses se declaram “nada racistas”, duas vez mais que há 20 anos.

Mas aponta que um candidato a um posto de trabalho com um nome francês tem 50% mais chances de ser contratado do que um com nome norte-africano.