O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres afirmou que o documento que descrevia um plano de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder, encontrado em sua residência por policiais federais que investigaram a suposta tentativa de ruptura institucional, “foi parar lá por uma fatalidade”.
Questionado no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo ministro Alexandre de Moraes, Torres disse que a minuta golpista foi entregue na sede do Ministério: “A gente [ministros de Bolsonaro] recebia ideias por WhatsApp e em papel com frequência. Isso foi parar nas pastas que eu levava para casa“.
O ex-ministro negou, no entanto, que tenha discutido o plano descrito nela. “Eu nunca trouxe isso à tona, nunca trabalhei essa ideia. O documento era muito mal escrito, cheio de erros de português, concordância, até o nome do tribunal estava escrito errado. Nunca discuti esse tipo de assunto”.
Torres no 8 de janeiro
Acusado de cinco crimes pela trama golpista, Torres foi o segundo interrogado desta terça-feira, 10, no STF. Além do período no governo Bolsonaro, ele chefiava a Segurança Pública do Distrito Federal no 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República em ato que, segundo os policiais, teve financiamento e organização por parte dos autores do plano de ruptura institucional.
Em viagem para os Estados Unidos durante a invasão, o ex-ministro foi preso preventivamente ao retornar ao Brasil, em 14 de janeiro, e passou quatro meses atrás das grades. Nesta terça, Torres afirmou que a saída do país estava previamente marcada e havia deixado um planejamento de segurança para reagir a eventuais depredações
+Vídeo: relembre a cronologia da suposta tentativa de golpe
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Quem já foi ouvido no STF
+O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que o antigo chefe recebeu e editou o documento que descrevia o planejamento da ruptura institucional.
+O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), disse não ter como provar fraude nas eleições de 2022, apesar de ter relatado ao ex-presidente que havia irregularidades nas urnas, conforme mensagens obtidas pelos policiais.
+O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, negou ter colocado suas tropas à disposição do plano golpista, ao contrário do que relataram seus colegas de Alto Comando.
Os próximos interrogados
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil.
Com Torres, os oito integram o “núcleo 1” da trama golpista, considerado responsável pelas principais ações para concretizar a ruptura institucional. Todos respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Em caso de condenação, as penas passam de 43 anos de prisão.
O interrogatório é uma das últimas fases da ação penal. A expectativa é de que o julgamento que vai decidir pela condenação ou absolvição do grupo aconteça no segundo semestre de 2025.
Por estarem na condição de réus, os acusados podem se recusar a responder às perguntas que possam incriminá-los. A Constituição garante aos investigados o direito de não produzir provas contra si.