Os torcedores alemães estão determinados a continuar a sua campanha de protesto contra um acordo entre clubes de futebol e um grupo de investidores, que já causou paralisações em mais de dez jogos no país nos últimos dias.

Os lançamentos de bolas de tênis e moedas de chocolate se multiplicaram nos estádios alemães, atrasando o início das partidas e obrigando os árbitros a interromperem os jogos.

Os torcedores querem mostrar com estas ações a sua rejeição ao acordo alcançado em dezembro entre dois terços dos membros da DFL (Liga Alemã de Futebol), que organiza a Bundesliga, sobre a transferência de uma parcela de 8% dos próximos direitos televisivos em troca de uma contribuição de capital para ajudar na comercialização e na promoção internacional do campeonato alemão.

Os grupos de torcedores exigem uma nova votação, por acreditarem que o acordo, que surgiu um ano após a rejeição de uma proposta semelhante, carece de transparência e não é democrático.

Apesar da grande afluência de público aos estádios e de um sólido contrato de transmissão televisiva na Alemanha, o interesse pela Bundesliga no exterior é significativamente menor do que o de outros torneios como a Premier League inglesa ou a LaLiga espanhola. As receitas internacionais representam uma parte importante dos recursos dos clubes ingleses, algo que a Alemanha estuda imitar.

“O objetivo é que a Bundesliga e a Bundesliga 2 [segunda divisão alemã] permaneçam competitivas tanto em termos desportivos como comerciais”, afirmou a DFL num comunicado para justificar o acordo.

– ‘Comercialização excessiva’ –

Os clubes alemães devem respeitar a regra ’50+1′, que garante o controle por parte dos seus sócios e limita a influência de investidores externos. Essa regra é muito popular entre os torcedores e, segundo o jornalista Matt Ford, “o sentimento geral entre os torcedores alemães é de que há suspeitas de comercialização excessiva” do esporte.

“Isso está ligado ao aspecto social e cultural da história do futebol alemão”, explica à AFP.

“Os clubes sempre foram controlados por seus sócios, enquanto na Inglaterra os clubes de futebol têm acionistas privados desde o século XIX”, destaca. Kristina Schroeder, integrante da organização de torcedores Unsere Kurve, disse à AFP que “a estrutura dos clubes baseada no controle de seus sócios é muito específica”.

O acordo comercial foi alcançado em dezembro em segredo, segundo seus detratores, sem poder garantir que os representantes dos clubes votassem de acordo com as instruções dos seus sócios.

Durante uma partida da segunda divisão, entre Hamburgo e Hannover, foram exibidas faixas em que se via um alvo sobre o rosto do presidente do Hannover. A partida foi interrompida por 30 minutos devido ao lançamento de bolas de tênis e outros objetos no gramado.

Até o principal confronto da Bundesliga, em 10 de fevereiro, entre Bayer Leverkusen e Bayern de Munique teve seu início adiado por causa de protestos semelhantes.

Segundo os torcedores, há muito mais em jogo do que uma simples participação nas receitas provenientes dos direitos televisivos. Oliver Jauer, do site de torcedores Textilvergehen, do Union Berlin, afirma que os protestos também buscam “expressar a irritação e a impotência contra o futebol moderno”, o que na sua opinião se traduz na implementação do VAR e de maior publicidade.

Outro torcedor do clube, Sam Witt, disse à AFP que “os protestos são organizados pelos ‘ultras’ [torcedores organizados], mas contam com o apoio dos torcedores normais, já que a chegada de investidores mudaria a cara do esporte para todos”. Ele lembra também que o projeto de realizar partidas nas noites de segunda-feira também foi boicotado com o lançamento de bolas de tênis no campo.

– ‘Pelo tempo que for necessário’ –

O acordo de dezembro definiu várias “linhas vermelhas”, garantindo principalmente que a DFL, e não os investidores, decidisse a hora de início dos jogos e o calendário das partidas, assim como a permanência da regra 50+1.

Mas, de acordo com Matt Ford, “os torcedores suspeitam que isso não vai se manter” e “o movimento não mostra sinais de esgotamento”.

Em declarações dadas na terça-feira à SID, a filial alemã de notícias esportivas da AFP, a DFL indicou que um dos potenciais investidores, o fundo de investimento americano Blackstone, decidiu se retirar, deixando apenas um na disputa.

“Os protestos continuarão até que o futuro do esporte esteja garantido ou até que nós, os torcedores, tenhamos desistido por cansaço”, afirma Sam Witt.

dwi/jld/fby/dr/ma/aam/am