Lagos, a capital econômica da Nigéria, continua imersa em um toque de recolher nesta quinta-feira (22), com suas ruas desertas e lojas fechadas, após um dia de morte e violência depois da repressão violenta das manifestações pacíficas.

Ao menos 38 pessoas morreram na terça-feira em todo o país, entre elas 12 manifestantes em Lagos, onde o exército e a polícia dispararam com armas de fogo contra os protestos, especialmente na área de Lekki, segundo a Anistia Internacional.

Desde o início das manifestações há duas semanas, 56 pessoas morreram em todo o país, segundo essa ONG.

Milhares de jovens nas grandes cidades da Nigéria, inicialmente mobilizados via redes sociais, estão há 15 dias indo às ruas para denunciar a violência policial e a ineficácia e corrupção do poder central.

Nesta quinta-feira (22) vários disparos foram ouvidos e uma espessa fumaça preta emanava do teto da prisão central de Lagos, segundo uma jornalista da AFP. “Estão atacando a prisão”, declararam os policiais perto do centro penitenciário.

– Silêncio do presidente –

Dois dias após a repressão que gerou condenações em todo o planeta, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari ainda não se dirigiu aos seus concidadãos. O silêncio está sendo muito criticado e várias personalidades pedem sua renúncia.

A polícia e o exército, acusados por essas mortes, negam qualquer responsabilidade.

Mas os vídeos gravados em Lekki mostram militares disparando sobre uma multidão que agitava bandeiras e cantava o hino nacional.

Essas imagens percorrem as redes sociais desde terça-feira e provocaram uma onda de indignação entre centenas de jovens.

Várias delegacias, as sedes de um canal de televisão e da Autoridade Portuária, assim como um terminal de ônibus, foram incendiados. Houve confrontos violentos entre as forças de segurança e jovens em vários bairros da cidade.

– Desaprovação internacional –

A repressão das manifestações na terça-feira gerou uma grande condenação internacional.

A União Europeia julgou “crucial que os responsáveis por esses abusos compareçam à Justiça e prestem contas”, enquanto a ONU pediu “o fim da brutalidade e dos abusos policiais na Nigéria”.

O candidato a presidência dos Estados Unidos Joe Biden pediu “ao presidente Buhari e aos militares que cessem a violenta repressão que custou a vida de vários manifestantes”, escreveu em seu site.

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, considerou que “parece bastante claro que as forças nigerianas recorreram excessivamente ao uso da força, disparando e matando com balas reais”.