Tony Blair foi um dos primeiros-ministros britânicos mais bem sucedidos, mas seu apoio à guerra no Iraque destruiu seu legado.

Uma investigação oficial cujos resultados saíram nesta quarta-feira, o chamado relatório Chilcot, chegou à conclusão de que Blair colocou seu país na guerra do Iraque sem esgotar as opções diplomáticas, sem um plano pós-conflito e seguindo cegamente os Estados Unidos.

Blair convenceu seu gabinete e o Parlamento, superando a relutância e a declarada oposição de muitos, a dar respaldo à invasão liderada pelos Estados Unidos. Ele tomou essa atitude com base em informações dos serviços de inteligência sobre armas biológicas, químicas e nucleares do Iraque que nunca foram encontradas.

Durante a década que permaneceu na função, ganhando três eleições legislativas, Blair comandou um período de prosperidade, assegurou a paz na Irlanda do Norte e ampliou os direitos dos homossexuais.

No entanto, nove anos depois de sair de Downing Street, e muito depois de as tropas britânicas se retirarem, Blair continua sendo insultado por muitos de seus compatriotas por um conflito que a maioria considera equivocado e alguns veem como um crime de guerra.

Os críticos de Tony Blair no Parlamento continuam se organizando contra ele há tempos, desde antes da divulgação do relatório Chilcot, e verificam a possibilidade de empreender ações legais ou a abertura de um julgamento político retrospectivo, um “impeachment” que só teria valor simbólico.

No ano passado, ele se desculpou pela má informação dos serviços de inteligência e por falhas no planejamento, mas reiterou que não se arrependia em derrubar Saddam Hussein.

Reinventando o trabalhismo

A direção atual dos trabalhistas rompeu com as políticas pró-mercado de Blair, mas não pôde negar o impacto transformador que teve em um partido que, em 1983, quando foi eleito pela primeira vez para o Parlamento, estava em debandada.

Trabalhando em estreita colaboração com Gordon Brown, seu futuro ministro das Finanças, Blair abandonou o compromisso do partido com a nacionalização da indústria e criou o que ficou conhecido como “Novo Partido Trabalhista”.

Em 1997, foi eleito primeiro-ministro de forma arrasadora, sendo, aos 43 anos, a pessoa mais jovem a ocupar o cargo desde 1812, e abriu uma nova era de esperança e de confiança para a nação depois de 18 anos de governos conservadores.

No ano seguinte, conseguiu um acordo de paz na Irlanda do Norte, a província britânica devastada por três décadas de violência entre as comunidades católica e protestante. Com a economia no auge, o aumento nos gastos com saúde e educação contribuíram para garantir-lhe outra vitória nas eleições de 2001.

Uma aliança cara

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, Blair se apressou em fazer uma aliança com o então presidente americano, George W. Bush. Londres enviou tropas ao Afeganistão e em 2003 aceitou se juntar à missão liderada pelos Estados Unidos para derrubar Saddam Hussein no Iraque.

Um milhão de pessoas se manifestaram nas ruas de Londres contra a invasão ao Iraque, e logo começaram a surgir sinais de que a guerra havia sido uma má ideia.

Blair ganhou as eleições de 2005, seu terceiro mandato consecutivo, um recorde para um primeiro-ministro trabalhista, mas a alegria durou pouco tempo.

No dia 7 de junho de 2005, um dia depois de Londres ganhar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2012, quatro terroristas atacaram a rede de transporte público da capital, matando 52 pessoas.

Dois anos depois, Blair se aposentou, aceitando, finalmente, a derrota em sua longa rivalidade, cada vez mais amarga, com Gordon Brown.

Afastado do Reino Unido

Blair passou a maior parte da última década no exterior, incluindo oito anos de trabalho em meio período como emissário no Oriente Médio do Quarteto diplomático (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU).

Sua missão era apoiar a economia palestina e as instituições na preparação para a eventual criação de um Estado palestino, mas renunciou no ano passado depois de não conseguir realizar avanços significativos.

Tony Blair fez uma rara incursão novamente na política britânica para advertir sobre os perigos de deixar a União Europeia no referendo de 23 de junho, intervenção que passou despercebida.

Seus serviços de conselheiro de diferentes governos e suas lucrativas conferências o enriqueceram, algo que não agrada a muitas pessoas em seu país.