Tony Bennett, o último de uma geração de cantores americanos cujo espírito alegre uniu gerações e o tornou um autor de sucessos por sete décadas, morreu nesta sexta-feira (21) aos 96 anos.

Criado quando as grandes bandas definiam a música pop dos Estados Unidos, Bennett conseguiu uma improvável ressurreição quando começou a ganhar o público jovem na década de 1990, sem necessidade de se reinventar.

Com mais de 80 anos, se tornou a pessoa mais velha a alcançar o número um na lista de vendas de álbuns nos EUA graças a uma coleção de duetos com Lady Gaga, que se tornou sua amiga e companheira de turnê.

Gaga foi apenas uma de uma longa lista de estrelas jovens que trabalharam com o cantor, cuja morte foi anunciada nesta sexta por sua assessora, Sylvia Weiner. Ele sofria de Alzheimer desde 2016.

Começando com a gravação da música do filme “Por Tua Causa” em 1951, Bennett cantou dezenas de sucessos, incluindo “Rags to Riches”, “Stranger in Paradise” e “I Left My Heart in San Francisco”, que rendeu a ele dois dos 19 prêmios Grammy de sua carreira.

Mas a invasão britânica dos Estados Unidos liderada por The Beatles desgastou o cantor, cuja música começou a ficar antiquada. Com o tempo, porém, sua carreira ressuscitou.

“Quando apareceu o rap, ou a música disco, qualquer que fosse a nova moda, não tentei encontrar algo que se encaixasse com o estilo da cena musical”, afirmou Bennett à revista britânica Clash.

“Simplesmente me mantive e cantei com sinceridade e tentei ser honesto comigo mesmo, sem me comprometer nunca, simplesmente fazendo as melhores canções que consegui pensar para o público”, disse. “E felizmente deu resultado.”

– Caloroso e otimista –

Nascido em 3 de agosto de 1926 em Astoria, no distrito mais cosmopolita de Nova York, o músico, cujo verdadeiro nome é Anthony Benedetto, deve parte de sua singular longevidade à sua técnica vocal.

Formado no bel canto, ele, que inicialmente era conhecido como Joe Bari, manteve sua voz intacta ao longo de toda a vida.

Bennett personificou a canção do pós-guerra, sem perder a relevância. Deixou poucos clássicos, diferente de Frank Sinatra, outro filho de imigrantes italianos da região de Nova York, com quem foi muito comparado, mas cujo sucesso foi muito superior.

Seus maiores sucessos, como “Cold, Cold Heart” e “Because of You”, vieram no começo da carreira, no início da década de 1950.

No entanto, Tony Bennett, que adotou esse nome artístico por sugestão do comediante Bob Hope, manteve uma audiência fiel graças a milhares de shows e uma presença de palco admirada por todos.

“Como espectador, acredito que Tony Bennett é o melhor cantor”, declarou Sinatra. “Fico emocionado quando o vejo, me emociona”, disse. Sua simpatia, elegância e energia projetavam uma imagem calorosa e otimista.

As expressões de pesar não tardaram. “Sem dúvida, o cantor, homem e intérprete mais elegante já visto. Ele é insubstituível. Eu o amava e o adorava”, escreveu o astro britânico Elton John no Instagram.

Bennett também se envolveu na causa contra o racismo na década de 1960 e uma filha de Martin Luther King Jr o homenageou nesta sexta-feira. “Obrigado por seu compromisso com o amor, os direitos civis e um mundo melhor”, tuitou a filha de King, Bernice.

– Nunca previsível –

Bennett padeceu nos anos 1970 e 1980, uma fase marcada pelo vício na cocaína e uma overdose em 1979. Seu filho Danny interveio e abriu caminho para uma segunda carreira ao apresentá-lo para uma audiência mais jovem.

Assim, em 1994, realizou na MTV um “Unplugged”, shows acústicos geralmente reservados para jovens artistas em ascensão.

Em 2006, lançou o álbum “Duets: An American Classic”, ao lado de grandes nomes da música popular, desde Stevie Wonder até Bono.

O sucesso foi total ao ponto de que em 2011 veria a luz um segundo álbum, “Duets II”, com o qual alcançou pela primeira vez o topo das vendas de discos nos Estados Unidos aos 85 anos.

O álbum contém duetos com Lady Gaga e Amy Winehouse, que revelam as duas jovens cantoras em uma abordagem refinada.

Durante sete décadas, Bennett seguiu o conselho de Sinatra: “Nunca seja previsível”.

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