Os dados de mercado de trabalho conhecidos nesta quinta-feira, 31, endossaram a avaliação de que o setor segue resistente ao enfraquecimento da atividade, conforme destacado na quarta-feira, 30, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), no comunicado que acompanhou a decisão de manter a Selic em 15% ao ano. Com a percepção reforçada de que o juro básico vai ficar parado no nível atual por mais tempo, aliada a um impacto menos desinflacionário do que o previsto do tarifaço, a curva de juros futuros fechou em alta nesta quinta-feira.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2026 oscilou de 14,915% no ajuste de quarta para 14,920%. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,225% no ajuste da véspera a 14,365%. O DI de janeiro de 2028 subiu de 13,519% no ajuste antecedente para 13,680%. O DI de janeiro de 2029 marcou 13,570%, de 13,418% no ajuste de quinta.
Na ponta mais longa da curva, o contrato de janeiro de 2031 ficou em 13,750%, vindo de 13,641% na quarta no ajuste. O DI do primeiro mês de 2033 avançou de 13,773% no último ajuste a 13,850%.
Embora o discurso duro do Copom não tenha mudado em relação a suas comunicações mais recentes nesta quarta, nenhuma decisão do colegiado é um “não evento”, afirma Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management. “A concretização de uma sinalização mais dura sobre a política monetária acaba tendo impacto sobre a curva”, avalia.
Nenhum agente do mercado esperava alteração no tom da autoridade monetária, pondera Olivares. Mas o fato de o comitê ter citado “uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros”, somado à sua visão cautelosa sobre o mercado de trabalho, foi uma sinalização clara de que cortes na Selic ainda estão longe de começar.
Segundo o BC, “o conjunto dos indicadores de atividade econômica tem apresentado, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo”. Essa barreira ao início do ciclo de flexibilização monetária foi corroborada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, publicada nesta quinta pelo IBGE. A taxa de desemprego caiu de 6,1% no trimestre móvel terminado em maio para 5,8% em junho – no piso das estimativas do Projeções Broadcast.
Em relação ao tarifaço – que tem sido o fator de maior influência sobre a curva de juros nas últimas sessões – no total, 694 produtos ficaram de fora da tarifa adicional de 40% dos EUA sobre o Brasil, que se soma aos 10% já existentes. Nos cálculos do banco Pine, a alíquota efetiva do governo Trump para as exportações nacionais deve ficar em cerca de 30%, o que ameniza o impacto da ofensiva comercial dos EUA.
O mercado tinha como premissa que a sobretaxa de Trump poderia acelerar o processo de desinflação no País, uma vez que as empresas que exportam aos EUA, em um primeiro momento, teriam que direcionar seus produtos ao mercado doméstico, o que reduziria os preços por aqui. “Com as exclusões de uma série de produtos da tarifa, o impacto líquido do tarifaço deve ser de menor magnitude, tanto em termos recessivos sobre a atividade quanto desinflacionários”, diz Olivares, da Azimut Brasil.
Por fim, pesquisa AtlasIntel/Bloomberg divulgada nesta quinta indicou que a aprovação do presidente Lula ficou em 50,2%, superando a desaprovação (49,7%) pela primeira vez em 2025. A enquete também ajudou a pressionar a curva de juros nesta quinta, devido à visão de que aumentam as chances de reeleição do governo atual e, consequentemente, da continuidade de uma política fiscal mais pró-gastos.