Na edição deste ano do Fórum Econômico Mundial, realizada desde o dia 23 em Davos, na Suíça, o mundo viu alguns dos principais líderes do planeta subirem ao palco para se posicionar contra o presidente americano Donald Trump. Críticas ao protecionismo comercial, à resistência em adotar medidas contra o aquecimento global e à política anti-imigração colocados em prática desde que Trump assumiu o governo dos Estados Unidos, há um ano, deram o tom dos discursos. Foi uma espécie de todos contra o presidente americano. E não poderia ter havido oportunidade melhor para o posicionamento. As reuniões em Davos reúnem tradicionalmente importantes chefes de Estado, empresários e representantes diplomáticos dos países que integram o Fórum. Em 2018, os mais de 70 líderes presentes decidiram responder prontamente ao endurecimento de posições antiglobalização demonstrado pela Casa Branca. Trump, primeiro líder americano a comparecer ao Fórum desde Bill Clinton, em 2000, fez questão de anunciar que usaria o Fórum para reafirmar suas políticas. Seu discurso era esperado para a sexta-feira 26.

No início da semana, antecipando-se ao que falaria na Suíça, Trump divulgou a implantação de tarifas de importação de até 50% para painéis solares e máquinas de lavar, sob a justificativa de impulsionar a indústria doméstica e assegurar seu compromisso com seu lema de campanha “America First” (América Primeiro). Antes mesmo de pisar em Davos, o terremoto Trump foi sentido com a chegada de sua tropa de choque, na quarta 24, deixando claro o que lá foram fazer. “Guerras comerciais são travadas todos os dias. Sempre há alguém quebrando tratados e tentando obter vantagens injustas”, afirmou Wilbur Ross, secretário de Comércio do governo americano. “A diferença é que agora as tropas americanas estão à frente.”

A mobilização contra Donald Trump começara com a fala do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, na terça-feira 23. “O isolacionismo não é a solução”, afirmou. Quando chegou sua vez de ocupar o palco principal do encontro, a chanceler alemã, Angela Merkel, chamou de “veneno” o populismo e exortou a uma mudança urgente de mentalidade. “Promover o fechamento dos países não nos levará a um futuro melhor”, disse, no dia seguinte. “Se achamos que as coisas não são justas, que os mecanismos não são recíprocos, então temos que encontrar soluções multilaterais, e não unilaterais”, completou Merkel.

Considerada a maior líder europeia dos últimos anos, Merkel encontra-se nesse momento enfraquecida dentro do continente. Teve dificuldades para montar seu novo governo, após as eleições do final do ano passado, e vê pouco a pouco o fortalecimento do presidente da França, Emmanuel Macron, como representante do bloco europeu. Sensível ao momento, Macron aproveitou sua fala durante o encontro para fortalecer a imagem da França como um país sólido economicamente e que pretende retomar seu papel de importância histórica na geopolítica mundial. “A França está de volta”, disse Macron.

PROTESTO Xenofobia de Trump vira comentário em cartazes (Crédito:Arnd Wiegmann)

O presidente francês, no entanto, sintonizou seu discurso a favor da globalização  e do livre comércio com os princípios defendidos pela colega Merkel. Macron fez um apelo em nome do que chamou de “novo contrato mundial”: “Caso contrário, os extremistas vão vencer, dentro de dez ou quinze anos, em todos os países”, afirmou. Um pouco antes, o líder da França ironizou sobre as negativas de Donald Trump em aderir à medidas contra o aquecimento global. “Com essa quantidade de neve que caiu aqui, é difícil acreditar que exista o aquecimento global. Felizmente esse ano não convidaram ninguém que seja cético quanto à elevação da temperatura”, disse, provocando risos na plateia.

“Vamos nos opor a qualquer tipo de protecionismo. A abertura é crucial não apenas para a China, mas para o mundo todo” Liu He, conselheiro econômico do presidente chinês, Xi Jingping

Representante mais importante do bloco asiático, o presidente da China, Xi Jingping, foi outro a juntar-se nas respostas anti-Trump. Por meio de seu conselheiro econômico, Liu He, Jinping reassegurou a posição chinesa em defesa da abertura dos países ao comércio sem barreiras – algo que a China vem adotando gradual e moderadamente – e também da necessidade de conter o aquecimento do planeta. “Vamos nos opor a qualquer tipo de protecionismo. A abertura é crucial não apenas para a China, mas para o mundo todo”, afirmou Liu He.

RECADO Lideranças se valem do Fórum para firmar posições (Crédito:Divulgação)