Nunca tanta gente esteve tão preparada para dançar como no último carnaval. Muito dos passinhos sincronizados que se viu nas ruas foi resultado de aulas de coreografia exibidas no Youtube e vistas por milhões de fãs. “Vivemos o melhor momento da dança”, diz Fabio Duarte, cofundador da FitDance, uma das empresas que está por trás da moda e que, com um modelo de negócios de alta potência, ajudou a torná-la onipresente em todo o País. Criada em 2014, a companhia foi inspirada na Zumba, um programa de fitness colombiano que estourou em 2006 com a mistura de dança e exercícios ao som de muita música latina. As aulas de zumba chegaram a mais de 150 países.

Mete Dança
Youtube: 742.651 de inscritos
Total de visualizações do canal: 51,5 milhões
Início: 2016
Origem: Feira de Santana (BA)
Criador: Danilo Alencar (Crédito:Divulgação)

Versão brasileira criada por dois irmãos, a FitDance compõe a maior parte de seu repertório com funks cariocas — o que significa muito rebolado. A empresa está crescendo a um ritmo acelerado, triplicou seu lucro em 2018 e espera dobrá-lo em 2019. De acordo com os sócios, seu programa consiste principalmente em qualificar instrutores e estes, credenciados como “instrutores FitDance”, pagam mensalidades de R$ 70 para poderem dar aulas usando o nome do método. “O coração da empresa são as aulas presenciais. O Youtube é só uma plataforma de marketing”, diz Fabio Duarte. De “só uma plataforma” o canal da companhia não tem nada. Atualmente são 9,7 milhões de inscritos que acompanham as coreografias postadas — para se ter ideia, a cantora Anitta tem apenas 1,5 milhão a mais. O valor da empresa não é revelado, mas certamente está na casa dos milhões. Além do império no Youtube, ela está presente em mais de 15 mil academias no Brasil e na Argentina e se prepara para chegar nos EUA, na Espanha e na Índia.

Não é de agora que o País se joga nas coreografias individuais. Nos anos 1990, a moda surgiu com tudo com o grupo É o Tchan, quando Carla Perez e Jacaré colocaram o País inteiro para dançar. Depois surgiram grupos de lambaeróbica que coreografavam as músicas, como Filhos do Sol e Swing do Bixo. Com o passar dos anos, no entanto, o pagode baiano desacelerou, principalmente em São Paulo. A dança recuperou o ritmo com a Zumba, que até hoje atrai milhares para a academia. Outro que contribuiu foi o professor Daniel Saboya, o primeiro a postar no Youtube vídeos com coreografias gravados com uma qualidade profissional. Ele começou em 2012, virou febre nesse promissor mercado virtual e recentemente até se lançou como cantor. Com 13 milhões de seguidores na internet, é atualmente procurado por artistas que querem lançar músicas. Mas nem sempre foi assim. “No começo nós tínhamos muitos vídeos bloqueados porque as pessoas os encaravam como pirataria”, diz Saboya. Quando criou o canal, as gravadoras não permitiam que ele usasse as faixas dos artistas, devido aos direitos autorais. Com o crescimento, a rota mudou de direção e ele passou a ser procurado pelos cantores. “A Lexa foi uma das primeiras que bateu o pé e pediu à gravadora para liberar sua música”, diz ele. A partir daí, seu canal virou um aliado na divulgação dos lançamentos dos artistas e também sua principal fonte de renda. Para coreografar uma música e postá-la, ele cobra em torno de R$ 10 mil.

CIA. DANIEL SABOYA
Youtube: 13.599.617 de inscritos
Total de visualizações do canal: 3,8 bilhões
Início: 2012
Origem: Rio de Janeiro (RJ)
Criador: Daniel Saboya (Crédito:Divulgação)

Hoje, artistas pedem para ter suas canções coreografadas e exibidas nos canais. Lexa foi uma delas

O negócio é fazer carão

O professor Justin Neto também não fica para trás no assunto coreografia e é conhecido como o queridinho das celebridades. Diferentemente dos outros, no entanto, ele não utiliza as redes sociais para ensinar as danças, mas apenas para divulgar seu trabalho. Com 727 mil seguidores no Instagram, está sempre viajando pelo Brasil para dar aulas. É recorrente a participação de famosos como Dani Calabresa, Claudia Leitte e Juliana Paes. A marca de Justin é justamente ensinar suas alunas a fazer “carão”, ou seja, a colocarem atitudes nas poses, como fazem as modelos, para se sentirem com a autoestima lá em cima. Entre suas alunas, estão mulheres que recorreram à dança para recuperar o amor próprio após traumas como separações.

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Outro canal que faz sucesso nas redes é o Mete Dança. Criado há cerca de dois anos, possui um número bem menor de seguidores em comparação aos outros, mas estão no auge do crescimento. No ano passado, a audiência dobrou e o faturamento quintuplicou. Com 745 mil inscritos, o pacote para montar uma coreografia e postar no canal sai em torno de R$ 5 mil. Idealizado pelo empresário baiano Danilo Alencar, que já agenciou bandas de “arrochadeira”, um estilo musical baiano, o canal conta com parcerias com dançarinos que coreografam as músicas e com uma produtora de vídeos. A monetização também ocorre por meio da divulgação de bandas e contratos publicitários. Enquanto a população se diverte, os empresários faturam.

 


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