Pelo menos uma pessoa morreu no estado de São Paulo por consumo de bebidas alcóolicas adulteradas com metanol, e outros quatro óbitos estão em análise, segundo confirmação feita na tarde desta terça-feira, 30, pelo governador Tarcísio de Freitas.
A principal linha de investigação é que destilados como whisky, vodca e gin estariam sendo “batizados” com metanol, causando internações e óbitos por contaminação – cenário encarado pelo Governo Federal como “potencial surto”. Em entrevista à IstoÉ, o ex-Secretário Nacional do Consumidor e ex-Presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, Arthur Rollo, advertiu que “todo tipo de estabelecimento oferece um risco ao consumidor” até que a situação seja regularizada.
“O consumidor não tem qualificação para identificar se os lacres ou selos de conformidade estão adulterados. Enquanto isso não estiver devidamente verificado, os consumidores não estão seguros, seja para comprar em um supermercado, adega, bar ou restaurante”, afirmou.
O especialista ressalta que, neste primeiro momento, os investigadores estão trabalhando para determinar a origem dos produtos falsificados e conter a disseminação de alcoólicos inapropriados. Como o consumidor não tem capacidade de identificar a presença de metanol nas bebidas e os nomes dos estabelecimentos não foram publicados, o cuidado deve ser redobrado. Segundo enfatiza Rollo, “o perigo é invisível” e “não é possível saber de onde vem”.
“A orientação que deveria ser passada pelas autoridades aos consumidores é de não consumir qualquer produto destilado até haver uma segurança em relação à origem dos produtos”, sugere o ex-Secretário Nacional do Consumidor.
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Medidas de contenção
Além de recomendar freio temporário no consumo de destilados, Arthur Rolo indica que a prioridade para resolver a problemática é a construção de “uma parceria entre as autoridades, empresas e entidades comerciais para restringir imediatamente a circulação.”
“Como não se tem a identificação de um lote ou bebida específica que contenha o metanol, deveria haver uma força-tarefa para retirar esses produtos de circulação. As associações comerciais e as próprias marcas têm de ser mobilizadas para descartar a circulação de bebidas adulteradas, identificar selos e lacres irregulares, porque essas entidades têm a expertise para identificar bebidas falsificadas”, diz.
A Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) também divulgou uma nota técnica com o intuito de orientar “o setor privado e desencorajar a ação criminosa de falsificadores e distribuidores irregulares”.
Recomendações aos estabelecimentos:
- Aquisição exclusiva de bebidas por meio de fornecedores formais com CNPJ ativo e regularidade no segmento;
- Compra acompanhada de nota fiscal e conferência da chave de segurança nos canais da Receita Federal;
- Não recebimento de garrafas com lacre e rolha violados, rótulos desalinhados ou de baixa qualidade, ausência de identificação do fabricante e importador, sem a identificação dos lotes, com numeração repetida ou ilegível;
- Realização de medidas de rastreabilidade como dupla checagem.
O metanol
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o metanol é um composto orgânico da família dos álcoois, sendo líquido à temperatura ambiente. É um dos mais importantes insumos na indústria química, sendo usado como matéria-prima para sintetizar produtos químicos usados na produção de adesivos, solventes, pisos e revestimentos.
Em razão da toxicidade do produto, seu potencial como adulterador do etanol combustível e da gasolina, os riscos à saúde humana e à segurança pública, a ANP tem uma regulamentação rígida, que estabelece o registro obrigatório para a movimentação e o armazenamento do produto.
O metanol não pode ser adicionado a nenhuma bebida, em razão de ser uma substância altamente tóxica para os humanos. No entanto, pode aparecer naturalmente em algumas bebidas alcoólicas, em baixíssimas concentrações, em razão do processo de fermentação de açúcares e pectinas.