Entrevista: Yuja Wang, pianista chinesa

Como define o seu repertório?

Eu toco aquilo que mexe comigo, quero sentir e compartilhar essa sensação.

Você recentemente tocou um recital em Salzburgo ao lado do percussionista e compositor Martin Grubinger. A música nova fez parte de sua educação ou foi um gosto adquirido?

As duas coisas. Tínhamos um grupo de música contemporânea criado por um percussionista quando eu estava na escola e ouvi a música de Boulez, Ligeti, etc. Acho que isso despertou o meu interesse. É o contato que pode despertar qualquer interesse em música ou na vida.

Seu pai era percussionista. O ambiente em casa era musical?

Sim e não, pois ele viajava muito. Mas, em casa, era um grande cozinheiro.

Você costuma se colocar contra algumas convenções do mundo da música clássica, como definir com antecedência os programas dos recitais, que você costuma alterar na hora.

Apenas sinto que tocar piano não pode nunca parecer com um trabalho. Mas o sistema de certa forma nos empurrou nessa direção, nos fazendo programar o que faremos com anos de antecedência, como se fôssemos autômatos, sem percepção do fluxo do espaço e do tempo. Isso não é natural ou humano. Gostaria que pudéssemos tocar quando quiséssemos.

Seu repertório tem crescido.

Estou animada para estrear o concerto do John Adams, com o maestro Gustavo Dudamel, e vou tocar o Concerto de Schumann pela primeira vez, uma peça que amo, mas que me intimidava. Há também os concertos de Brahms, Shostakovich e o quinto de Prokofiev. E há a colaboração com meus artistas favoritos e amigos. Você aprende na música e na vida.

O fato de as críticas a seus concertos se referirem às suas roupas é algo que te incomoda?

Se as referências forem gentis, eu não ligo (risos). Mas não podemos controlar o pensamento ou a expressão das pessoas, certo?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.