03/01/2020 - 16:38
Face like, cool tweet., love me. I’ll only snapchat you, if you linked in me. Instagrame-me agora querida, partilhe-se já comigo. Dá bumble em mim como se não houvesse amanhã. Happn? Claro! Porque se apertar o “x não vai dar match!
Hoje não há bicho careta, empresa ou pessoa que não tenha um perfil, ou mesmo dois, uma página ou mesmo duas, álbum de capa e dez mil fotografias no celular. Hoje todo o mundo está na net partilhando a vida com o resto dos passageiros digitais, gerindo comunidades, catando amigos, aumentando a rede, sendo globais! Mas será que a gente vive mesmo?
As mídias sociais têm todos os ingredientes para não discutir a relação: movimento, disponibilidade, alegria, obediência (é verdade, dá para desligar de você quiser) veneração, patriotismo, amizade e companheirismo — um rol de qualidades quase sem fim. Mas a melhor é o Tinder.
Namorar no Tinder é uma delícia. As conversas são lindas, intermináveis e sem bafo. Todo os parceir@s são belos, cheios de sentido de humor e vivem em lugares fresquinhos e bem iluminados.
Todo o dia tem eventos em muitas geografias, a gente vai sem ir a Nova Iorque, promete não faltar em Paris, ninguém te culpa em Floripa, ninguém repara e Manaus, ninguém se atrasa em Lisboa. É a sustentável leveza do ser.
Nem Milan Kundera, explorando a incoerência das ações do ser humano tendo por base as suas motivações obscuras, poderia conseguir melhores resultados que um tweet cínico na hora dos Jornal Nacional.
Nenhuma explicação para o sentido que a vida tem condições para competir com uma foto ousada no Happn ou no Instagram.
Hoje, o amor libertino entre Teresa e Tomás — a história analógica da mulher que trai apenas por prazer e do cara que nunca consegue materializar seus ideais — tem metade da força de uma troca de “mensagens” no Tinder.
Será que conhecer pessoas de carne e osso, ou ir a sítios de verdade tá démodé?
Agora, muitos jovens guardam seus melhores amigos na rede. Nunca os viram em carne e osso, nunca lhes sentiram a força de um abraço ou a carícia de um beijo. Mas são seus melhores. O mundo mudou com a internet. E o amor mudou no Tinder.
Que saudades gente! daquele tempo em que para jogar futebol era preciso ter bola, para segurar na mão precisava o escurinho no cinema; e para dar beijo era mesmo obrigatório ter boca.