A primeira mulher brasileira (e sul-americana) a ir para uma edição da Olimpíada foi Maria Lenk, em 1932, 12 anos depois da estreia de um homem. Já a primeira medalha feminina veio com Jaqueline Silva e Sandra Pires, nos Jogos de Atlanta, em 1996, 76 anos após o primeiro brasileiro. Não é nenhuma novidade que as condições no esporte são diferentes para ambos os gêneros. Por isso cada conquista, seja ela dentro ou fora de campo, precisa ser comemorada.

Os salários e patrocínios são, geralmente, inferiores aos dos homens. As condições de treinamento e apoio também não costumam ser as ideais. Mas, para os Jogos de Tóquio, a delegação feminina do Brasil pode fazer história, assim como fizeram muitas no passado, como Maria Lenk, Jackie e Sandra, Aída dos Santos (única mulher na delegação dos Jogos de Tóquio, em 1964, que conquistou um quarto lugar no salto em altura mesmo sem ter um calçado adequado) e tantas outras.

Os ótimos resultados das mulheres brasileiras em um período recente aponta para que o recorde de pódios femininos do País em uma edição olímpica seja superado. A marca é de Pequim-2008, com sete medalhas. Para Tóquio, a delegação nacional tem tudo para superar isso. “O momento é muito bom. Na Olimpíada do Rio tivemos um recorde de participação de atletas femininas de todos os países em relação a outras edições. Espero que o Brasil ajude a incrementar este número e que em Tóquio tenhamos um bom resultado também”, diz Bruna Takahashi, do tênis de mesa.

“Vejo que para as mulheres é muito difícil conciliar a vida pessoal e a de atleta. Se não tiver ajuda em casa ou até mesmo de um patrocínio para que não precise trabalhar fora e possa focar 100% em seu treinamento, é claro que fica muito mais difícil obter resultados. Tenho muito que agradecer a minha família, confederação, clube, técnicos e aos meus patrocinadores por me fornecer uma condição boa para focar no alto nível e em meus resultados. Sem esse apoio seria impossível chegar ao número 45 do mundo.”

Assim como Bruna, muitas outras atletas vislumbram melhores condições para a prática esportiva. Dani Lins, levantadora da seleção feminina de vôlei, foi campeã olímpica em Londres-2012. Depois dos Jogos do Rio, ficou grávida e sua filha nasceu no início de 2018. Conseguiu retornar rapidamente às quadras, conciliando a vida de mãe e atleta de ponta, e tem tudo para ir a Tóquio. “O esporte feminino está crescendo cada vez mais, onde nós mulheres estamos mostrando que não somos o sexo frágil! Somos guerreiras que não fogem da luta”, comenta. “Seria muito bom mesmo para o Brasil ter a melhor campanha de mulheres brasileiras em uma Olimpíada, pois mostra o quanto nós somos fortes, dedicadas, guerreiras e que fazemos de tudo pelo nosso País.”

A judoca Mayra Aguiar conta que se inspirou em outras mulheres que fizeram sucesso antes dela e que é gratificante servir agora de inspiração. “A gente está muito bem e temos mulheres muito fortes em todas as modalidades. Vi esse crescimento no judô feminino e fico feliz por ter feito parte disso. O esporte feminino está vindo com resultados grandes, não é mais promessa e sim realidade, e tem muita chance em muitas categorias do judô e em outras modalidades. Estou bastante confiante e feliz de fazer parte desse time”, explicou. “A mulherada mostrou sua força e conquistou seu espaço. Quando entrei na seleção com 14 anos eu já sentia mais dificuldade, em relação a investimento, de poder competir fora, patrocínio era mais difícil. Hoje está mais tranquilo.”

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A nadadora Etiene Medeiros, por sua vez, sabe da responsabilidade de representar o País e sonha com uma medalha em Tóquio. E vibra com a possibilidade de ter ao seu lado outras atletas que vão brigar por um pódio nos Jogos Olímpicos. “Em todos os esportes temos mulheres fortes. A gente sabe da expectativa, mas temos de trabalhar muito com os pés no chão, dia após dia. Estamos conquistando resultados ano após ano. Existe possibilidade de termos mais mulheres na Olimpíada e isso é uma vitória para nós todas”, avisou.

No Comitê Olímpico do Brasil (COB), a avaliação é que o Brasil tem ótimas condições de fazer história no Japão com suas competidoras. “Até o momento, já são 80 mulheres com vagas garantidas na delegação brasileira, em um total de 171 atletas. Com vários bons resultados das mulheres nas principais competições do mundo em 2019 e uma presença robusta no Time Brasil no Japão, a expectativa é de uma participação marcante das mulheres brasileiras nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020”, lembrou Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.

Ele cita que no ano passado o Brasil teve três campeãs mundiais – Pamela Rosa (skate), Nathalie Moellhausen (esgrima) e Beatriz Ferreira (boxe), além de Martine Grael e Kahena Kunze (vela), que venceram o evento-teste no Japão. “Além disso, temos outras grandes atletas como Ágatha e Duda, Ana Marcela Cunha, Ana Sátila, Duda Amorim, Etiene Medeiros, Mayra Aguiar, dentre várias outras que estão há anos entre as melhores do mundo em suas modalidades.”

Bichara explica que ainda há espaço para a maior participação e desenvolvimento do potencial das mulheres no esporte brasileiro. “Para isso, é necessário investimento, programas e projetos específicos que possibilitem mais oportunidades nesse sentido. O COB tem indicado às confederações que esse é um caminho. Existe uma atenção do mundo onde há potencial de disputa de medalhas e uma visão de que o esporte feminino ainda tem muito o que crescer. É natural que os países foquem seus investimentos onde existem essas oportunidades”, disse.

Neste Dia Internacional da Mulher, muitas delas estarão treinando e suando de olho nos Jogos de Tóquio, daqui a 138 dias. E sonhando com a possibilidade de entrarem para a história do esporte brasileiro.


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