A guerra devasta o território ucraniano desde fevereiro, mas o conflito também acontece no meio digital. O TikTok, aplicativo favorito dos millenials e usado geralmente para compartilhar dancinhas, dublagens e tutoriais de maquiagem, foi inundado por imagens de tanques, bombas e cenas de destruição. Um dos primeiros vídeos a correr o mundo desde o início do confronto foi o da popular influenciadora russa Nastya Timman: loira, maquiada e especialista em mecânica automotiva, ela ensina de forma básica como pilotar um tanque de guerra, na eventualidade de um ucraniano encontrar um desses veículos abandonado pelo caminho.

HISTÓRIAS Cenas da invasão russa: imagens dramáticas mobilizam a comunidade internacional (Crédito:Divulgação)
MILITARES Soldados ucranianos mostram o dia a dia do conflito: humor para reduzir a tensão (Crédito:Divulgação)

O vídeo havia sido produzido antes do conflito, mas ninguém se importou com isso. Repetida à exaustão, a versão que viralizou informa que ela está no meio da guerra e que teria aprendido a dirigir o tanque sozinha. Lançado em 2016 e com mais de 1 bilhão de usuários, o TikTok se vale de seu algoritmo apurado e rápido para superar as redes sociais concorrentes.

Mesmo quem não segue nenhum perfil pode ter acesso ao conteúdo. Ou seja, mesmo em meio aos rostos de perfis conhecidos, pode surgir uma imagem de guerra. O formato da plataforma e o interesse pelo tema faz com que esses vídeos ganhem popularidade instantânea. Foi assim que o soldado ucraniano conhecido apenas como Alexandre, do perfil @alexhook2303, tornou-se um dos campeões de audiência. Seus vídeos no campo de batalha são respeitosos, mas há toques de humor. Em um deles, seus companheiros fingem que os fuzis são guitarras ao som de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana.

A usuária @valerisssh, moradora da cidade de Chernihiv, uma das mais afetadas, mostra sua rotina em meio à destruição causada pelos bombardeios e o dia a dia no abrigo antibombas. Como a Bytedance, empresa que controla o TikTok, não consegue controlar o conteúdo, a Rússia resolveu censusar o aplicativo. O presidente russo exige que a guerra seja chamada de “operação militar especial”. Quem difundir “notícias falsas”, na visão do Kremlin, pode ser condenado a até 15 anos de prisão.

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“Putin já perdeu a guerra da informação porque existe naturalmente uma comoção com quem é agredido, ainda mais quando o agressor é uma grande potência como a Rússia”, diz o professor de Relações Internacionais Tanguy Baghdadi. “Na guerra de informação, onde precisa existir um lado certo e um lado errado, a Rússia definitivamente está do lado errado.” Com o conflito chegando a sua terceira semana, diversos perfis começaram a compartilhar cenas de filmes e outras imagens sem relação ao confronto atual. O problema é sério, uma vez que a desinformação custa vidas humanas. A Byte Dance garante que está tentando classificar as informações duvidosas.


A influenciadora do Vietnã

“Continuamos a responder à guerra na Ucrânia com mais recursos de segurança e proteção para detectar ameaças emergentes e remover desinformação prejudicial”, disse a porta-voz Hilary McQuaide. Por meio dos celulares, a guerra chegou ao mundo inteiro.

De 1955 a 1975, a guerra do Vietnã foi o primeiro grande conflito a ser televisionado. As imagens de bombardeios envolvendo mulheres e crianças, transmitidas diariamente por jornalistas em solo asiático, chocaram as famílias norte-americanas e mudaram a opinião pública sobre a presença dos EUA no país. Em 1972, a atriz Jane Fonda viajou ao norte do Vietnã e causou furor ao pedir que seu próprio país parasse com os bombardeios. Hoje ela é conhecida internacionalmente por seu papel como pacifista.

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