Tibério Azul, vocalista do Seu Chico, aquela banda que roda o País a interpretar canções de Chico Buarque, capaz de impressionar o próprio homenageado a ponto de tê-lo como participação especial em um DVD ao vivo, gosta de títulos longos. Ele ri da afirmação, mas não nega a veracidade disso. Literário, o músico pernambucano tem paixão pelas palavras, significados, sentidos, metáforas e questões abstratas.

Lança duas obras de uma vez (e prepare o fôlego ao ler os títulos em voz alta): o disco Líquido ou a Vida Pede Mais Abraço Que Razão e o livro de poesias Líquido ou O Homem Que Nasceu Amanhã (Editora Confraria do Vento). O show que comemora a chegada de ambos terá a participação da banda completa que acompanhou Azul na gravação do álbum, incluindo Yuri Queiroga, o produtor, está marcado para esta sexta-feira, 17, no Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Pompeia), a partir das 21h30, com ingressos cujos valores variam de R$ 6 a R$ 20.

Disco e livro são obras irmãs, complementares, embora funcionem separadamente. O álbum veio antes. Com as músicas já gravadas, Azul sentiu a necessidade de continuar a escrever. O que seria algo para o encarte do trabalho fonográfico acabou se tornando um produto próprio. “De alguma forma, eles se misturam. Mas não sei qual começa e qual termina”, explica o pernambucano.

Azul, atualmente, tem 37 anos. É praticamente outro diante daquele que lançou o primeiro álbum solo – aqui vem mais um título longo – Bandarra ou O Caminho Que Vai Dar no Sol, em 2011. Era, na ocasião, alguém que havia acabado de chegar aos 30 anos (e só quem passou por essa idade sabe as transformações provocadas por ela), mudou-se para o Rio de Janeiro, teve uma filha (Branca, hoje com 3 anos). Até o cabelo, de tom castanho claro, foi pintado de cinza, para ajudar na representação das mudanças provocadas pela chegada de Líquido.

“Gosto de mergulhar com tudo em um novo projeto”, justifica Azul. Ele conta que, de brincadeira, dizia para a filha que havia mudado a cor do cabelo para branco para combinar com o nome da pequena.

A palavra “líquido” está no título tanto do livro quanto do disco não por acaso. É o conceito da água, da liquidez, que interessou Azul no início do projeto, desde 2012. Ele vê que o disco trata do hoje, de um oposto à racionalidade das coisas – e às ideias de Zygmunt Bauman, cuja obra se iniciou recentemente, com o livro Vida Líquida. “Todos sempre querem ter razão”, explica o músico cujo interesse, ao compor, é olhar para o interior, para o consciente e inconsciente. “O primeiro disco era sobre estar diante de um problema”, ele explica. “Neste, estamos, como a água, abraçando esse problema, lidando com ele. Esse é o conceito líquido que conduz o trabalho.”

Líquido, o disco, esconde na festividade instrumental, com sopros e cordas, o tópico complexo cantado por Azul. Faz dançar, como um frevo que arde ao conflito dos versos de frente. “Acho que esse disco, de fato, dialoga sobre o presente. Não é um disco combativo. É buscar uma saída, uma solução, mas há uma dor ali.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.