“Quanto mais próximo, mais feliz me sinto”, diz Thomas Jolly, o maestro das cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas e Paraolimpíadas de Paris-2024, é um homem do teatro com uma imaginação transbordante que teve que se adaptar ao exigente entorno dos Jogos.

Conhecido por sua sensibilidade dramatúrgica, pela grandiosidade de suas montagens e pela defesa de uma “teatralidade exacerbada”, este artista quer transformar a Cidade Luz e seus monumentos às margens do Sena no cenário do “maior espetáculo do mundo”.

Jolly, de 42 anos, ficou conhecido em 2014 no meio teatral francês com a trilogia “Henrique VI”, de Shakespeare, uma obra de 18 horas que apresentou no Festival de Avignon.

Desta vez, o espetáculo dos Jogos vai durar cerca de 3 horas e 45 minutos.

Será que ele vai usar cenografia e figurinos góticos em alusão à sua visão de “Romeu e Julieta” ou “Macbeth”, duas óperas que dirigiu? Ou irá recorrer a luzes de neon brancas, laser vermelho e feixes de luz como na ópera rock “Starmania”, que redesenhou com sucesso em 2022?

À medida que o dia D se aproxima, este defensor do teatro popular se diz “impaciente por poder finalmente compartilhar esta aventura extraordinária”, na qual trabalhou por 18 meses no mais absoluto sigilo.

– “Emocionado” –

Jolly foi escolhido diretor artístico das cerimônias em dezembro de 2022.

Ele fundou a companhia La Piccola Familia, que montou após concluir seus estudos universitários e na escola de Teatro Nacional da Bretanha.

Jolly não revela nada da cerimônia, mas garante sentir-se “emocionado por ver que o que sai dos ensaios, dos ateliês de figurino e da fabricação” dos cenários.

Inicialmente, sua visão da cerimônia era grandiloquente.

Foi uma entrevista descontraída para o jornal L’Equipe, quando chefiava o Centro Dramático Nacional de Angers, que o lançou ao primeiro plano da cena olímpica.

Perguntado ao lado de outros dois artistas sobre o que esta cerimônia poderia ser, mencionou a chegada dos atletas em carros que se transformariam em veículos anfíbios, as bandeiras dos países cravadas na Torre Eiffel e a atriz Catherine Deneuve como Olímpia de Gouges – considerada uma das pioneiras do feminismo francês.

Suas ideias disparatadas não puderam se concretizar, mas lhe valeram a inclusão no projeto como diretor artístico.

– “Em pousio” –

Sua primeira decisão foi cercar-se de quatro autores, entre eles a romancista Leila Slimani e a roteirista da bem-sucedida série te TV francesa “Dix pour cent”, Fanny Herrero, para conceber “um grande relato” a partir do cenário no coração de Paris: o rio e seus monumentos.

Assim, foram criadas 12 cenas ou quadros artísticos ao longo do percurso de 6 km, que foram “trasladados à realidade”, um “desafio complicado”, admite.

O produto final “coincide com a minha ideia inicial”, assegura Jolly, originário de Rouen, filho de um tipógrafo e uma enfermeira.

Defensor incansável da “diversidade” e da “convivência”, ele promete uma cerimônia de encerramento no Stade de France, em 11 de agosto, também repleta de “significado”.

E assegura que vai combinar elementos festivos e políticos, com um espetáculo de abertura dos Jogos Paralímpicos, em 28 de agosto, muito comprometido com a inclusão.

E depois? “Gostaria de atuar para outros no teatro, no cinema”, diz à AFP, deixando escapar que tem “um roteiro em preparação”.

Por enquanto, reservou uma casa para tirar “um mês” de férias para descansar.

“Há dois anos e meio, acumulei muitos projetos e dei tudo o que tinha nestas cerimônias”, diz.

“Agora, como toda boa terra, preciso entrar em pousio”, afirma, sorridente.

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