A ministra do Interior, Theresa May, que se tornará primeira-ministra da Grã-Bretanha na quarta-feira, segundo anunciou nesta segunda-feira David Cameron – que deixará o cargo -, é considerada por muitos uma nova dama de ferro, cuja grande tarefa será gerir a saída do Reino Unido da UE.

“Teremos uma nova primeira-ministra neste local, após minha saída, à noite”, disse Cameron aos jornalistas diante de sua residência em Downing Street, acrescentando que manterá sua última sessão de perguntas como primeiro-ministro do Parlamento na quarta-feira (13), antes de se reunir com a rainha Elizabeth II para se demitir.

Sua única rival à sucessão de Cameron, a secretária de Estado e Energia Andrea Leadsom, se retirou nesta segunda-feira (11) reconhecendo que May conta com maior apoio por parte dos parlamentários “tories” (antigo partido de tendência conservadora no Reino Unido). “Ela se encontra em posição ideal para realizar o Brexit da melhor maneira possível para os britânicos, e prometeu que irá fazê-lo”, declarou.

May conseguiu lidar muito bem com os dois grupos, pró e anti-Brexit, do partido Conservador e surgiu como a candidata de consenso entre os “tories”.

Apesar de ser eurocética por convicção, no início do ano decidiu se manter fiel ao primeiro-ministro David Cameron, que renunciou, e defender a permanência do país na União Europeia (UE).

Mas, se ela limitou-se a advogar pela causa o mínimo necessário, por outro lado continuou insistindo sobre a necessidade de reduzir a imigração, tema preferido entre os pró-Brexit, tornando-se alguém possível para ambos os grupos.

Theresa May, casada e com 59 anos, uma mulher alta e magra, com aspecto patrício, olhos muito expressivos, que destacam o cabelo curto e grisalho, está na ala mais à direita do partido conservador. No entanto, durante a campanha para o referendo abordou alguns temas sociais tentando conquistar os eleitores e também romper com a imagem de frieza.

Apesar de ter se pronunciado a favor da UE, seus assessores políticos trabalharam para o grupo do Brexit. Isso colaborou para o aumento do “vínculo político com eles” e pode atrair o apoio de muitos conservadores eurocéticos, disse recentemente à AFP Tim Oliver, da Escola de Economia de Londres.

Sua participação na campanha foi anedótica. “A UE está longe de ser perfeita”, mas “o interesse nacional é continuar sendo membro da UE”, disso no fim de fevereiro, depois das reformas conquistadas por Cameron em Bruxelas.

Após isso, se limitou a dizer em abril, durante seu único grande discurso de campanha, que sair da UE “não resolveria todos os problemas de imigração” do Reino Unido.

Esta filha de um reverendo anglicano reuniu sua equipe mais próxima e trabalhou nos bastidores para conseguir o apoio dos parlamentares conservadores, segundo dizia o jornal conservador The Daily Graphic.

“A nova Margaret Thatcher”

Sua postura de consenso levou o Sunday Times a apresentá-la, quatro dias antes do referendo, como “a única figura capaz de unir os grupos rivais do partido” conservador.

May, que muitas vezes é descrita como “a nova Maragaret Thatcher”, começou sua carreira política em 1986 depois de estudar na Universidade de Oxford e trabalhar durante um breve período no Banco da Inglaterra.

Nesta época foi eleita vereadora pelo distrito londrino de Merton. Em 1997, se converteu em deputada conservadora pelo próspero distrito de Maidenhead, em Berkshire (sul da Inglaterra).

De 2002 a 2003 foi a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária-geral do partido conservador.

De 1999 a 2010 ocupou diversos cargos no gabinete de porta-vozes conservador, quando o partido esteve na oposição.

Com a eleição de Cameron para primeiro-ministro em 2010, foi designada ministra do Interior, cargo que segue ocupando seis anos depois, e após uma nova vitória eleitoral conservadora.

O Daily Telegraph a descrevia “como a mulher mais importante da política nacional”, graças a “uma determinação feroz e a negação para reprimir seu gosto por sapatos estampados com pele de leopardo”, parte de uma característica sempre muito elegante.

Casada desde 1980 com Philip John May, um banqueiro, não tem filhos, gosta de passear e cozinhar, e ganhou o protagonismo no governo por sua linha implacável contra o crime. É protestante praticante, mas se manifestou a favor do casamento homossexual.