Nada mais justo do que a música urbana abrir a primeira edição do The Town, a versão paulistana do Rock in Rio. Entre os sons gerados dentro da selva de pedra que é São Paulo, o rap feito pela dupla feminina Tasha & Tracie, que inaugurou o palco The One na tarde deste sábado, 2, é, atualmente, a sua mais completa tradução.

O show começou por volta das 14h40, com o público ainda entrando na Cidade da Música em Interlagos.

Tasha & Tracie, do hit Diretoria, entraram no palco de lambretas, surpreendendo do público, ainda tímido, que tentava entender palcos e outras áreas do festival.

Nascidas em São Paulo, Tasha & Tracie, ou melhor, as irmãs gêmeas, Tasha e Tracie Okereke, também se encaixam perfeitamente na cultura hip-hop, de onde o rap descende. Além de música, atuam na moda – já se fala em estética tasha & Tracie -, na arte e são feras no ativismo.

Filhas de pai nigeriano e mãe brasileira, as irmãs sempre conviveram com os conterrâneos do pai, que se reuniam no centro da cidade para fazer a “verdadeira música preta”. No Jardim Peri Peri, onde nasceram, na zona sul da cidade, conheceram bem os anseios da quebrada. Na Batalha da Santa Cruz, se inteiraram sobre a cena do rap nacional.

Toda essa mistura claro na música escolhida para abrir a apresentação Cachorra Kamikaze. A letra diz “pagam com migalhas, tiram minha paz/ diferentes socialmente, quando convém, iguais”.

Em seguida, mostram hits como Amarrou e Agouro. Na primeira parte, a apresentação teve participação de MC Menorzinha e Kyan, namorado de Tasha.

A curitibana Karol Conká, um dos principais nomes femininos do rap nacional, entrou no palco vestida de cobra – uma referencia ao meme língua de chicote, como é conhecida desde que participou do Big Brother Brasil. Duas cabeças, uma em cada ombro. “São a Tasha e Tracie”, brincou, a certa altura.

Sozinha no palco, Karol cantou Fuzuê, um de seus hits. Com as anfitriãs, cantou Gandaia.

“Vocês me aceitam como eu sou”, disse Karol, que já foi vítima de ‘cancelamento’, também por sua participação no BBB.

Dias antes da apresentação, em conversa com o Estadão, Karol disse que era grata por ser lembrada como uma pessoa que contribuiu para a cultura brasileira. Também afirmou que, além de música, levaria protesto para o palco. Cumpriu por meio das músicas. Pouco falou, além de agradecer o convite.

Karol e Tasha & Tracie mostram trecho de uma parceria que elas prometeram lançar em breve.

“Ele diz que maceta/ vagabundo tenta/ mas perde a pose quando mamacita tenta”. Mamacita é um dos apelidos de Karol Conká.

Mesmo sendo um marco e tanto uma dupla – ou um trio – de rappers femininas abrirem um festival tão importante quanto o The Town, falta um voto de confiança a mais dos organizadores. Aos rappers e funkeiros nacionais são reservados, quase sempre, os palcos não principais – embora os festivais lutem para emplacar a narrativa de que isso acabou – e horários menos nobres.

Nesse sentido, o The Town corrige o erro cometido com Ludmilla em 2022, na mais recente edição do Rock in Rio, quando ela saiu ovacionada de uma apresentação que ocorreu fora do palco destinado aos headliners daquele ano. No próximo dia 7, ela, enfim, abre os trabalhos no Palco Skyline do The Town.