O palco secundário do Rock in Rio carioca, lá chamado de Sunset, ocupa uma posição musical mais esquizofrênica, entre brasilidades e rocks, novos e velhos artistas. Na versão portuguesa do festival, no aqui Palco Vodafone, a premissa é bem simples: apresentar um bom panorama da música independente. Nesta quinta, 19, no primeiro dos cinco dias de evento, o alto volume das guitarras deve ter sido determinante para a escalação dos três atos que se revezaram a entreter o público que ainda chegava ao Parque da Bela Vista, ao norte de Lisboa.

O volume da massa sonora despejado das enormes caixas de som cresceu na mesma proporção inversa ao número de pessoas que se posicionava em frente do espaço. Poucos gatos pingados presenciaram a avassaladora performance da dupla (e por vezes trio, com a adição de um baixista convidado) The Sunflowers. Mas mais pessoas surgiram para assistir aos sempre contagiantes Black Lips, única banda americana no palco secundário nesta quinta.

Originário do Porto, o grupo Sunflowers não se mostrou tímido diante da escassez de fãs. Com guitarra e bateria, ecos, distorção e velocidade, a banda evocou ventos praianos vindos diretamente da Califórnia. A surf music da dupla, um rapaz e uma garota, não é pura, contudo. O espírito punk toma de assalto a guitarra. Tudo avança em beats acelerados. Como se Beach Boys e Sonic Youth dessem à luz um filhote cheio de energia. Até as impurezas, nos vocais pouco audíveis e a bateria às vezes oscilante, deixam-se levar pela energia dos dois no palco. Os girassóis espalhados em alguns pontos do palco trazem cor ao cinza sonoro dos dois.

Os quatro ‘gajos’ do Keep Razors Sharp (algo como ‘mantenha as lâminas afiadas’) mostram exatamente o que seu título pode oferecer. São afiados. Formado como uma espécie de supergrupo, com integrantes de outras bandas locais, o quarteto não se prende aos gêneros.

Com as experiências em bandas anteriores, como Sean Riley & The Slowriders, Riding Pânico, Pernas de Alicate Capitão Fantasma e The Poppers, algumas delas com sucesso em Portugal e na Espanha, os quatro integrantes se esforçam para se distanciar dos sons originais e criar um híbrido próprio. Ao fim, produzem canções ótimas para dançar.

A mais veterana das três atrações do Vodafone, o Black Lips transpira a última grande fase do garage rock mais puro daquela geração capitaneada pela popularidade dos Strokes. São mais imprevisíveis que os capitães do gênero. E, perdão aos fãs, melhores e mais vibrantes ao vivo. A efervescência juvenil não foi embora com o passar dos anos e dos discos. São sete álbuns, embora seus quatro integrantes ainda ostentem o jeito de quem acabou de deixar a adolescência.

A anarquia instrumental e vocal captura a atenção até dos mais puristas, aqui para assistirem ao sempre genial Bruce Springsteen. É o que se propõe a programação do Palco Vodafone, afinal. Explorar a juventude de guitarras selvagens, enquanto o rock tradicional leva suas multidões ao Palco Mundo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.