Por um período da vida de uma geração nascida a partir da segunda metade dos anos 1980, naquela fase na qual pelo menos uma pessoa da turma tem mais de 18 anos e carteira de habilitação, nada parece fazer mais sentido do que descer a serra e ir à praia ao som do The Offspring estourando as caixas de som do carro. Por vezes, esse sentimento de euforia que o hardcore californiano proporciona vai embora – ou ela migra para outros ritmos, gêneros e artistas. Em outras, ele fica. É para testar essa incrível capacidade de permanecer no gosto de jovens – e de outros nem tão jovens assim – que o The Offspring volta ao Brasil.

Dexter Holland (voz e guitarra), Kevin John Wasserman (guitarra), Greg K. (baixo) e Pete Parada (bateria) são a principal atração do festival Rock Station, realizado na noite desta quinta-feira, dia 1º, no Espaço das Américas, em São Paulo. Em sua primeira edição, o evento reúne ao lado do quarteto californiano as bandas punk Dead Kennedys, Anti-Flag e a brasileira Dona Cislene. O bom grupo do Distrito Federal abre as atividades às 20h (os portões serão abertos uma hora antes disso). O Offspring, atração que encerra o festival, está escalado para sacudir no palco a partir das 23h40.

São assustadores 32 anos de existência desde que Holland e Greg se juntaram para fazer música em Huntington Beach, no sul da Califórnia, nos Estados Unidos. O guitarrista Wasserman, mais conhecido pelo apelido de Noodles, entrou no grupo no ano seguinte, alegadamente por ser mais velho do que os outros dois integrantes e já ter idade para comprar cerveja – nos Estados Unidos, apenas aqueles maiores de 21 anos podem adquirir bebidas alcoólicas. Juntos, os três passam três décadas a circular pelo mundo com um punk visceralmente apressado, capaz de empolgar até o mais sonso dos mortais, graças ao bom senso estético das harmonias vocais entre Holland e Noodles, principalmente. O baterista Parada está no grupo desde 2007.

Noodles é uma espécie de prova viva de que o verão pode, sim, ser eterno. Aos 53 anos, o guitarrista atendeu o Estado em uma das pausas entre turnês que a banda faz, mesmo que um novo disco de estúdio ainda esteja longe dos planos. Havia chegado, no dia anterior, do frio do Canadá e, confortavelmente de volta ao calor e à umidade da costa oeste dos Estados Unidos, ele revelou que a banda gravou algumas outras canções para serem lançadas nos próximos meses – “a previsão é que ele saia em 2017”, revela o guitarrista. Elas integrarão um novo álbum, assim como a contagiante Coming For You, que saiu no ano passado e provou que o Offspring não estava em estado de completo coma no estúdio desde o disco Days Go By, lançado em 2012. “O que discutimos é o formato do disco, entende?”, diz Noodles ao telefone. “Por que deveríamos esperar para lançar novas músicas em um disco se o público pode começar a ouvi-las agora?”

Coming For You, como a primeira faixa dessa prometida nova safra, conta o guitarrista, ajudou a oxigenar o show da banda. Não é das canções mais brilhantes que o grupo já produziu, justamente porque deixa de lado algumas das melhores características das músicas mais populares. A bateria quebrada e os riffs demasiadamente truncados impedem a crescente até os refrões explosivos que o Offspring tão bem soube fazer, principalmente durante os anos 1990.

“Coming For You é um bom exemplo do que o fã poderá ouvir”, revela Noodles. “Temos, contudo, uma música que é meio diferente de tudo o que o já fizemos. Não sei se posso falar muito a respeito dela, mas digo que ela tem uma batida que não costumamos usar com frequência. Na verdade, é uma canção que já tocamos em shows menores e acústicos, mas que ganhará uma roupagem totalmente nova quando for sair nesse disco.”

Noodles conta que o quarteto debateu a melhor forma de lançar o último disco, Days Go By, impulsionado pelo qual, aliás, eles vieram ao Brasil em 2013. “Pensamos se o disco seria colocado para download, se seria somente virtual. No fim das contas, optamos por um formato físico, mas Coming For You já não existe nesse plano. Ela está apenas aí, solta, nos formatos digitais. E isso é muito maluco para se pensar, não e?”

Noodles é um de outros tempos e ainda se surpreende com o fato de que “seu celular tem 15 horas de músicas salvas nele”. “Isso é mais do que eu jamais tive durante a minha adolescência, percebe?” Ele diz que sua missão é levar o calor californiano para outras regiões do planeta. “Eu entendo que isso esteja na nossa música. E, certamente, o fato de vivermos aqui na Califórnia influencia bastante as nossas canções. Aqui é verão o ano inteiro”, ele diz ainda. “E nossa música tem muito a ver com surfe, skate e outros esportes assim.” Um fim de semana na praia também, não? Ele ri: “É claro!”.

ROCK STATION

Espaço das Américas. Rua Tagipuru, 795, Barra

Funda, tel. 3864-5566.

5ª (1º/9), a partir das 19h. R$ 240 / R$ 400.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.