Em sua oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal que apura a manipulação de resultados e as apostas esportivas, o dono da SAF do Botafogo, John Textor, apresentou, em sessão secreta com os senadores membros da comissão, a íntegra dos relatórios que trariam provas de supostas interferências indevidas e fraudulentas nos resultados de jogos das edições de 2022 e 2023 do Campeonato Brasileiro, as quais tiveram o Palmeiras como campeão.

“Não queremos falar em provas, mas são indícios importantíssimos”, afirmou o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), presidente da CPI, após a reunião privada, na qual foram apresentados nomes de jogadores e árbitros que estariam envolvidos em manipulação. “Apresentou com detalhes e riqueza, mas consideramos indícios. Não se tratou apenas do CEO do Botafogo trazer fatos ou indícios do seu clube, o Botafogo. Falou de outros jogos, de outros clubes”, completou.

A comissão terá nova sessão na quarta-feira, a partir das 14 horas, quando o relatório de Textor deve ser debatido com maior profundidade pelos parlamentares. “Temos indícios suficientes para investigar profundamente, independentemente, e chegarmos às conclusões em nossas próximas reuniões”, disse Kajuru.

“Os indícios transcenderam o comportamento dos jogadores. A questão do VAR, de analises de imagens supostamente negadas… temos que entender porque isso aconteceu. O que a CBF tomou o não de providências em relação ao que agente viu”, acrescentou Eduardo Girão (Novo-CE), vice-presidente da CPI.

Na primeira parte da sessão, que durou quase três horas, Textor respondeu a perguntas de senadores sobre as acusações feitas acerca de possíveis manipulações de resultados nos jogos das últimas duas edições do Campeonato Brasileiro. Em sua fala, o mandatário da SAF do Botafogo afirmou que sua intenção é pensar no futuro da competição e não necessariamente reaver prejuízos do passado.

Textor citou algumas vezes a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, mas reafirmou que não acusou o clube alviverde ou qualquer outra agremiação de participação nas manipulações esportivas. “Por sorte não falo português para entender o que ela disse sobre mim. Outros presidentes tiveram diferentes reações. Ela tomou a decisão de me atacar e me difamar. Tratei com calma do assunto, mas ela preferiu outra abordagem”.

O dono da SAF do Botafogo ainda afirmou que os relatórios produzidos pela Good Game! não apontam o porquê de as manipulações terem ocorrido, apenas destaca que elas aconteceram durante o jogo a partir da identificação de “movimentos anormais” de atletas e árbitros. “As nossas evidências dizem como o jogo é manipulado, mas não dizem por que o são”.

Questionado pelo senador Romário (PL-RJ), relator da CPI, se teria interesse em vender a SAF do Botafogo – suposição que circulou nas últimas semanas -, Textor negou e qualificou a pergunta como “estúpida”. “Com todo o respeito, essa é a pergunta mais estúpida que poderia existir. Se eu quisesse vender a minha participação (no Botafogo), eu não estaria dizendo essas coisas ruins que estão fazendo aqui (no Brasil), não estaria falando de corrupção. Eu nunca venderia um negócio dessa forma”, afirmou o americano.

Por fim, Textor sugeriu aos senadores que diminuíssem o poder da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A Fifa, entidade máxima do futebol, proíbe qualquer ingerência sobre federações nacionais por parte de órgãos de Estado, sejam atrelados aos poderes Judiciário, Legislativo ou Executivo.

“Existe uma caixa preta em relação à escolha dos árbitros. Precisamos de liderança na CBF. Vocês deveriam limitar o poder da CBF. Deveriam privatizar a operação da liga (Campeonato Brasileiro). Existe uma força muito grande por trás da organização do torneio. Acabei me tornando uma pessoa polarizada. Isso se tornou a minha cruz. Vocês sabem o que estão fazendo e peço a vocês que diminuam o poder da CBF. O Brasil exporta os melhores jogadores do mundo. E eu acredito que esse jogo tem de ser jogado aqui. Então, está na hora de limpá-lo”, afirmou Textor.