As eleições legislativas na Alemanha, que definirão quem será o próximo primeiro-ministro do país, parecem já ter resultado definido: Angela Merkel conseguirá dos parlamentares, pela quarta vez, a chefia do governo. Na semana passada, o debate entre Merkel, pelo Partido Democrata-Cristão, e Martin Schulz, cadidato social-democrata, confirmou essa hipótese: em um momento de antagonismos, atentados e radicalizações que deixam a União Europeia com os nervos à flor da pele, é bastante óbvio que ambos apresentassem programas similares. O melhor exemplo disso é a luta para interromper a entrada da Turquia na União Europeia. Esse foi um dos pontos no debate que se revelou mais como conversa entre dois aliados, menos como disputa de dois candidatos. “Quem quer que seja o próximo chanceler, a tarefa é dizer ao ditador turco, Recep Tayyip Erdogan, que ele já ultrapassou todas as linhas da democracia”, disse Schulz. Merkel anuiu e frisou que pensa de igual forma. Eles também deixaram claro que é preciso endurecer contra o terrorismo, mas “essa questão nada tem a ver com a religião dos migrantes pelo continente”, é “apenas em nome da segurança”. Já houve época em que Merkel, dona de incrível habilidade na atualização de suas posições políticas (mudando-as radicalmente se preciso for), perdera o apoio popular ao endossar plataformas de esquerda. Ela deu uma guinada para o centro do leque político e ideológico e, novamente, conquistou a aprovação dos alemães: abre vantagem de dezessete pontos sobre seu oponente. Essa foi a sua estratégia para manter-se em alta nas pesquisas de intenção de voto e tentar garantir maioria parlamentar ao seu partido nas eleições. Se de fato conseguir tal bancada majoritária, é claro que ela será mais uma vez reconduzida ao cargo de primeira-ministra.

LIVROS
O ministro Barroso deve ser lido

O ministro do STF Luís Roberto Barroso pôs ponto final em seu novo livro: “A Judicialização da Vida”. Tem uma tese interessante: desiludida com a política, boa parcela da juventude ingressa no Ministério Público ou na magistratura, o que explica o “ímpeto transformador do Judiciário”. Entre as boas decisões do STF ele cita o aval para pesquisas com células-tronco. Entre as equivocadas situa o monopólio mantido aos Correios.

BRASIL
Dinheiro jogado fora

ANDRÉ DUSEK

É de cortar o coração: como presidente da República interino, Rodrigo Maia molhou de lágrimas a lapela do paletó do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Motivo: a assinatura do Plano de Recuperação Fiscal do Rio de Janeiro, que sangrará o Tesouro Nacional em R$ 63 bilhões. A chancela de Maia se deu na terça-feira 5, seu último dia de interinidade. Agora explico o que corta coração. Não é o pranto de Maia. É a certeza de que esse dinheiro esvoaçará dos cofres públicos do Rio de Janeiro sem que a população do estado tenha um centavo investido em seus sistemas de saúde, educação e segurança.

CNJ
Quanto custa o Poder Judiciário

Levantamento do Conselho Nacional de Justiça: 79,7 milhões de processos esperam decisão da Justiça em todo o País. No ano passaso esse número era 76,9 milhões, ou seja, houve acúmulo de 3,6%. Outro dado avassalador no mesmo estudo do CNJ: em 2016, o Poder Judiciário custou aos cofres públicos R$ 84,8 bilhões — R$ 75,9 bilhões foram gastos com remunerações, pensões, benefícios e indenizações. O custo médio de um magistrado, mensalmente, é R$ 47,7 mil. “O Poder Judiciário quer se mostrar para se aperfeiçoar”, disse a presidente do STF, Cármen Lúcia.

JUSTIÇA
Ataque de absurdo

ROBSON FERNANDJES/AE

A Justiça Militar e o Tribunal de Justiça de São Paulo batem cabeça. Dói dos dois lados. A Justiça Militar quer o poder de julgar PM acusado de homicídio. Era assim no passado, e era melhor: agora o PM que é réu passou a ser julgado pelo Tribunal do Juri e jurados tendem a absolvê-lo pelo fato de ele ser policial. A Justiça Militar é isenta, julga duro e à luz das provas. Essa disputa continua. A segunda trombada: a Justiça Militar queria dar ao PM o direito de ele recolher provas em local de crime. Isso inviabilizaria o trabalho da perícia e abriria o risco de fraude processual. A ideia morreu de ataque de absurdo.

R$ 3,3 bilhões

é quanto o SUS dispendeu no ano passado no tratamento de pacientes com câncer. Tal valor poderia ser reduzido pela metade se a demora não fosse tanta na prestação da primeira assistência aos enfermos. É tamanho o descaso do SUS que 60% deles só começaram a ser examinados já com o câncer em estágio avançado.