Teste de R$ 10 identifica metanol na bebida em 15 minutos; saiba como funciona

Metanol. Fiscalização de bebidas em estabelecimento no bairro Cidade Líder, em São Paulo
Fiscalização de bebidas em estabelecimento no bairro Cidade Líder, em São Paulo Foto: Paulo Guereta / Governo do Estado SP

Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) criaram um método simples e barato que, em poucos minutos, identifica metanol e outras adulterações em bebidas alcoólicas destiladas.

Desenvolvido em 2023 no Instituto de Química da universidade em Araraquara, no interior de São Paulo, o kit foi patenteado no mesmo ano, custa entre R$ 10 e R$ 15 e, no caso das bebidas, dá o resultado em 15 minutos. Na época, não houve interesse comercial para o desenvolvimento em larga escala.

O contexto atual é outro. O país enfrenta uma crise de intoxicação por metanol, com 195 notificações, sendo 14 casos confirmados e 181 em investigação. São Paulo lidera a estatística, com duas mortes causadas pela ingestão da substância em bebidas alcoólicas adulteradas.

Como testar sua bebida

Conforme a Agência Unesp de Inovação, o teste é mais barato, rápido e eficiente do que as metodologias disponíveis atualmente para detecção das quantidades de metanol em combustíveis e bebidas. Também não exige mão de obra especializada nem laboratórios altamente equipados.

O processo começa com a adição de um sal à amostra da bebida ou combustível, transformando o metanol em formol. Em seguida, um ácido é usado para gerar mudança de cor na solução, que indica a presença da substância que pode levar à morte.

A técnica foi aplicada em amostras de gasolina, etanol, vodca, cachaça e uísque, com 100% de precisão nas análises. O resultado sai em 15 minutos, para bebidas alcoólicas, e 25 minutos para combustíveis.

A coloração final permite classificar o teor de metanol na mistura de forma visual:

Cor verde: sem quantidades significativas de metanol.

Cor verde amarronzado: presença de 0,1% a 0,4% de metanol

Cor marrom: presença de 0,5% a 0,9% de metanol

Cor roxa: presença de 1% a 20% de metanol

Cor azul marinho: de 50% a 100% metanol

A crise do metanol

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou o cenário atual como “anormal” e recomendou que a população não consuma bebidas alcoólicas até a regularização da situação. Os casos registrados de contaminação ocorreram após o consumo de vodka, gin e whisky.

Os órgãos de vigilância sanitária recomendam a bares, empresas e demais estabelecimentos que comercializam bebidas que redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos. Aos consumidores, a orientação é para não adquirir substâncias sem rótulo, lacre de segurança e selo fiscal até a resolução dos casos.

Em entrevista à IstoÉo ex-Secretário Nacional do Consumidor e ex-Presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, Arthur Rollo, afirmou que “todo tipo de estabelecimento oferece um risco ao consumidor” durante a crise do metanol.

“O consumidor não tem qualificação para identificar se os lacres ou selos de conformidade estão adulterados. Enquanto isso não estiver devidamente verificado, os consumidores não estão seguros, seja para comprar em um supermercado, adega, bar ou restaurante”disse.

gerente médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, Luis Penna, recomendou a interrupção no consumo de destilados também para evitar o aumento no número de atendimentos hospitalares e internações. Segundo o médico, a agilidade na identificação e tratamento é fundamental para tratar a intoxicação.

*Com informações de Estadão Conteúdo