06/11/2024 - 9:38
Algumas modalidades fitness nos parecem como verdadeiros cultos quando vemos as pessoas que as praticam: elas falam sobre isso o tempo todo, baseiam toda sua rotina semanal em torno de encaixar a atividade – mesmo que isso signifique acordar às 4h da manhã – e afirmam com toda a certeza que aquilo é melhor que qualquer droga. A escalada é uma delas.
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Minha melhor amiga foi pega por esse “culto” cerca de 2 anos atrás e sempre tentou me puxar para ele. Semana passada, me rendi.
A princípio, tudo pareceu animador – e não era apenas pelos belos corpos e atitude acolhedora das pessoas que estavam na academia de escalada que escolhi. Ver todas aquelas rotas parede acima dá uma sensação de volta à infância que me deixou nostálgica. Eu costumava escalar todos os brinquedos do parquinho – para desespero de minha mãe – e me pendurar de ponta cabeça do topo deles sem medo, uma das minhas atividades favoritas.
Vesti todo o equipamento de segurança e, com o incentivo da minha amiga e da minha memória de criança, fui. Subi seguramente pela primeira agarra. Alcancei a segunda para poder apoiar o pé em uma mais alta. A terceira era levemente menor mas nada que não me desse ainda alguma segurança. Fui subindo com movimentos certeiros, até que… Parei de prestar atenção na logística da minha escalada (qual a melhor pedra para o próximo movimento?) para prestar atenção na altura.
Paralisei. “Vai, você consegue”, minha amiga gritava de baixo. “Pelo amor de Deus, sua louca, o que você está fazendo aqui em cima?”, gritava a voz dentro da minha cabeça. A segunda venceu.
A descida
“Sem problemas, essas coisas acontecem. Afinal, era sua primeira vez, se não quer subir mais, é só descer de volta”, você pode estar pensando, ao que eu te respondo: “tolo engano”. Descer é o desafio principal pois você precisa jogar o corpo para trás, para longe da parede de escalada, deixando-o suspenso apenas pela corda de segurança. Fiquei parada segurando na parede pelo que pareceu uma hora – ok, na verdade foram cerca de 5 minutos – até me sentir segura para me soltar. Mas não sem antes gritar para minha amiga lá no chão se posicionar abaixo de mim e fingir que me pegaria nos braços se eu caísse – não duvido da força braçal dela porém é claro que, mesmo em minha cabeça desesperada, eu sabia que ela não conseguiria me pegar, mas essa falsa segurança foi necessária para que eu pudesse descer.
Para minha surpresa, quando cheguei no chão, logo quis subir de novo. Será que é isso que os adeptos a esse “culto” querem dizer quando falam que é melhor que drogas? Eu estava claramente com medo mas, por algum motivo, aquela sensação de dever cumprido tomou meu corpo e eu quis repeti-la.
Aceitando meus limites
Assim, o fiz. Confesso que me rendi à área infantil, com paredes de escalada mais fáceis e intuitivas. E não, mesmo com uma certa vantagem de tamanho e desenvolvimento cognitivo, não reinei ali. De fato, uma das crianças resolveu me instruir das vezes que eu paralisava para descer, gritando lá de baixo como eu deveria fazer e até interpretando fisicamente o salto para trás, além de me dar dicas sobre onde colocar o pé quando eu estava subindo.
Quem disse que crianças são medrosas? Muito pelo contrário. Aquele menino me lembrou de como eu era destemida quando jovem e aliviou todo o medo que eu estava sentindo naquele momento ao me fazer focar em como ele era adorável, em vez de em como eu certamente morreria violentamente daquela altura de 2 metros sendo segurada por todo um equipamento de segurança e com um chão acolchoado lá embaixo. Onde você estiver, criança corajosa que ajudou uma adulta de 29 anos em uma escalada que, para você, era uma brincadeira de – literalmente – criança, muito obrigada!
Considerações finais
O segredo é a consistência. Se você vai para a próxima subida, rapidamente você vê um progresso em relação à anterior, subindo um pouco mais a cada escalada e, apesar de ainda não conseguir jogar meu corpo para trás com total confiança quando vou descer, eu ainda chego lá – sim, já combinei com minha amiga de voltar pelo menos mais duas vezes por semana. Será que fui sugada pelo culto?
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