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Um busto esculpido em cristal, cujas feições indicam se tratar do general romano Marco Antônio, está entre os tesouros encontrados nos restos de três embarcações naufragadas na baía de Abu Qir, no delta do Nilo. De acordo com o Ministério de Antiguidades do Egito, os achados incluem ainda três moedas de ouro com a efígie de Augusto, primeiro imperador romano. A descoberta da escultura é surpreendente não tanto pelo material com que ela foi feita, já que peças de cristal de rocha não eram incomuns na época, mas pelo estado em que foi encontrada, praticamente intacta, com as feições claramente reconhecíveis. O cristal é um material frágil e muito complicado de ser trabalhado.

As descobertas foram feitas por uma missão conjunta entre o departamento de arqueologia subaquática do Ministério de Antiguidades egípcio e o Instituto Europeu de Arqueologia Subaquática. Em entrevista ao jornal egípcio Ahram Online, Osama Al-Nahas, chefe do departamento no ministério do Egito, afirmou que a região guarda ainda muitas outras relíquias. Grandes pedaços de madeira e restos de objetos feitos de cerâmica indicam que uma quarta embarcação também afundou no local. As buscas serão retomadas em 2018. A missão conjunta também está restaurando as peças encontradas.

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De acordo com os arqueólogos, a escultura de cristal tem cerca de dois mil anos, o que situa sua confecção em uma época tumultuada da República Romana, quando Marco Antônio, Augusto e Lépido formaram o Segundo Triunvirato, ditadura que governou a República após o assassinato de Júlio César. O Egito, então subordinado a Roma, ficou sob a supervisão de Marco Antônio. Mais tarde, disputas internas acabaram com o Triunvirato. O general fugiu para o Egito, onde se suicidou ao lado da amante, Cleópatra. Augusto então consolidou seu poder, transformando-se no primeiro imperador romano.

Cidade perdida

A baía de Abu Qir, a cerca de 30 quilômetros de Alexandria, guarda os restos de uma das grandes metrópoles egípcias, Heracleion. Apelidada de “Atlântida do Egito”, a cidade portuária foi citada em textos gregos com o nome Thonis, mas estava desaparecida. Suas ruínas só foram encontradas no ano 2000 pelo arqueólogo francês Franck Goddio. Batizada em homenagem ao herói grego Héracles (ou Hércules, em latim), Heracleion era a principal cidade portuária da região e teve especial importância durante a Época Baixa do Egito Antigo, que representa o período de declínio dos faraós. Mesmo após a fundação da vizinha Alexandria por Alexandre, o Grande, continuou bastante movimentada, até que desapareceu nas águas do Mediterrâneo no século VIII d.C.

 

Desde que as ruínas foram encontradas, Heracleion se tornou um rico sítio arqueológico subaquático. Cerca de 250 artefatos descobertos na baía de Abu Qir, incluindo uma estátua de granito com mais de cinco metros de altura representando um faraó não identificado, foram reunidos para uma exposição na França, em 2015. Além de apresentar os achados ao mundo, a mostra tinha como objetivo reafirmar a rica herança cultural da região em um período turbulento no Oriente Médio em que obras com milhares de anos foram destruídas por terroristas, enquanto outras foram roubadas por organizações criminosas.

Heracleion teve especial importância durante a Época Baixa do Egito Antigo e desapareceu nas águas do Mediterrâneo no século VIII d.C.