O fundo do mar possui muitas riquezas e o ouro já nem é a carga mais valiosa dos navios. Do tamanho de uma batata, os lucrativos nódulos metálicos, também conhecidos como nódulos de manganês, são formas rochosas que, assim como o petróleo, levam anos para serem formados. A diferença? Estão soltos em algumas regiões oceânicas do planeta, bastando coletá-los a uma distância de cinco mil metros de uma forma que seja economicamente viável e também ambientalmente segura.

Repletos de metais úteis para a humanidade como o cobalto, o cobre e o níquel, a exploração dessas riquezas, cada vez mais escassas em terra firme, será essencial para abastecer a indústria de baterias elétricas, smartphones, computadores e sistemas fotovoltaicos. Os nódulos em si não são uma novidade. Sua descoberta aconteceu ainda no século 19, quando a Expedição Challenger, missão científica da marinha britânica que tinha por meta desbravar os oceanos, identificou os primeiros exemplares em 1874. Agora, porém, há tecnologia e capacidade de se chegar até as profundidades onde os nódulos estão.

“Há anos temos o conhecimento dos nódulos de manganês, mas até então não era economicamente sustentável ir até lá para recuperá-los. O custo da operação ainda era maior que o valor gerado com os metais”, explica Paulo Boggiani, professor de Geologia da Universidade de São Paulo. Uma das empresas que pretende mudar esse cenário é a The Metals Company, com sede em Vancouver, no Canadá. A empresa quer explorar a chamada Zona Clarion-Clipperton, uma faixa horizontal de sete mil quilômetros de extensão do Oceano Pacífico que fica na altura do México.

A exploração em escala industrial está prevista para começar em 2024, mas ainda esbarra em diversas questões ambientais. Biólogos contrários à operação alegam que o maquinário usado para a coleta, uma espécie de aspirador de pó que será usado para sugar as pedras, pode mexer com o ecossistema marinho de uma maneira irreversível. Para Boggiani, toda a intervenção na natureza irá impactar o meio ambiente de alguma forma. “Por isso é importante a pesquisa, que haja essa discussão sobre o tema. Para que possam ser calculados os riscos e benefícios de explorar uma região específica”, diz. A empresa canadense defende que a coleta dos nódulos metálicos é mais segura que a mineração tradicional, tal como ocorre hoje. O geólogo diz que a prática não é inédita e afirma que medida semelhante já acontece atualmente na costa da Namíbia, onde há a coleta de diamantes do fundo do mar.

Há como escapar?

Independente do impacto ambiental uma coisa é certa: a demanda por metais valiosos à indústria eletrônica deve aumentar com o passar dos anos e o natural avanço tecnológico. Estima-se que em 2018 foram extraídas cerca de 110 mil toneladas de cobalto em todo o mundo e que em 2026 serão necessárias 225 mil toneladas do mesmo metal, de acordo com dados coletados pela empresa alemã Statisa. Mais da metade desse metal é extraído de minas na República Democrática do Congo, muitas vezes com o uso de trabalho infantil.

Apesar de algumas licenças ambientais para a exploração do solo oceânico, ainda não há uma licença definitiva que permita a comercialização dos nódulos. Quem regulamenta o que acontece no fundo do mar é a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês), organização ligada às Nações Unidas. Enquanto a pesquisa e o estudo avançam, a polarização também aumenta. O Greenpeace, por exemplo, chegou a elaborar um documento em conjunto com ecologistas afirmando que a mineração oceânica coloca todo o ecossistema marinho em risco, podendo inclusive contribuir na degradação do clima. Por aqui, o governo brasileiro possui, desde 2015, o direito de realizar pesquisa exploratória no Hemisfério Sul, mas ainda não há nenhum estudo conclusivo sobre a viabilidade ou não da exploração comercial da região.