Na manhã da quinta-feira, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, anunciou ao Brasil e ao mundo a implosão de uma suposta célula terrorista no Brasil, com a prisão de 10 pessoas que, segundo ele, haviam passado de simples comentários na internet para “atos preparatórios”, que envolveriam a compra de um fuzil pela internet. Na mesma coletiva, Moraes afirmou que os riscos de ataque durante os Jogos Olímpicos foram complemente debelados com essa operação, chamada de Hashtag, e com a deportação do professor Adlène Hicheur – um físico que foi mandado embora do País sob protestos da comunidade acadêmica e científica.

No entanto, assim que foi sendo revelada a identidade dos personagens presos na quinta-feira, a versão de Moraes começou a ser questionada. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, classificou os jovens, que vivem em regiões distantes do País e até remotas, como amadores e “porra-loucas”. O juiz responsável pelo caso, Marcos Josegrei da Silva, negou a existência de um líder no grupo, como havia sido dito por Moraes, e afirmou ser prematuro até classificá-los como terroristas.

Para completar, a esposa de um dos presos afirmou que seu marido só foi preso por dar aulas de árabe no YouTube. Ao que tudo indica, todos eles, culpados ou não, ficarão detidos até o fim da Rio 2016, com base na nova Lei Antiterrorismo, que flexibiliza as garantias individuais. Depois da operação, várias questões se colocam. A Rio 2016 será ou não alvo de ataques? O País está realmente preparado? Embora o Brasil jamais tenha entrado no radar de grupos terroristas, uma olimpíada é um dos eventos mais complexos do mundo em matéria de segurança, porque envolve milhares de competidores, dispersos, que vêm de vários países sensíveis, como Estados Unidos, França e Israel, por exemplo.

Bastaria a morte de um único atleta, como afirma Christophe Dubi, diretor-executivo do Comitê Olímpico Internacional, para que o evento fique definitivamente manchado. Essa realidade, num mundo complexo como o atual, palco de ataques recentes como os de Boston, Paris, Orlando e Nice, demonstra que as ameaças não devem ser menosprezadas pelas autoridades. Mas, à primeira vista, os riscos reais de ataques não estão nem nos “porra-loucas” que foram presos na última quinta-feira nem no físico deportado para a França.